A matéria escura e a energia escura são soluções propostas para
explicar alguns fenômenos gravitacionais, e, até onde sabemos, são
coisas distintas.
Embora juntas respondam por mais de 95% do nosso universo, só sabemos
de sua existência por meios indiretos, observando seus efeitos sobre o
universo e tentando deduzir suas propriedades a partir deles.
Matéria escura
A matéria escura foi proposta nos anos 1930 por Fritz Zwicky para
explicar a diferença entre a massa gravitacional e a massa luminosa de
aglomerados de galáxias (Fritz Zwicky estava trabalhando com curvas de
rotação de galáxias).
A massa gravitacional de um objeto é determinada pela medida da
velocidade e raio da órbita de seus satélites, um processo igual à
medição da massa do sol usando a velocidade e distância radial dos
planetas.
A massa luminosa é determinada pela soma de toda luz e convertendo
este número em uma estimativa de massa, baseado na nossa compreensão
sobre como as estrelas brilham. Esta comparação de massa-para-luz indica
que a energia na matéria luminosa contribui com menos de 1% da
densidade média de energia do universo.
Certamente existe mais matéria nas galáxias que não emite luz, mas as
evidências indicam que há um limite máximo para a matéria normal
(aquela feita de átomos) presente no universo. Evidências vindo da
medição da radiação cósmica de fundo, por exemplo, apontam que no máximo
5% da densidade de massa-energia do universo e 20% da massa dos
aglomerados está na forma de átomos.
Mas do que é feita a matéria escura? Muitos físicos e astrônomos
acham que a matéria escura é provavelmente uma nova partícula que ainda
não foi detectada em aceleradores de partículas ou em raios cósmicos.
Para ser uma partícula de matéria escura, ela tem que ter bastante
massa, provavelmente mais que um nêutron, e interagir muito fracamente
com a matéria normal, de forma a dificilmente reagir produzindo luz.
O protótipo do candidato é algo parecido com um neutrino, só que
todos os tipos de neutrinos conhecidos são muito leves e muito raros
para explicar a matéria escura.
E como a matéria escura afeta o universo? Aparentemente, ela é
responsável pelas estruturas que vemos no universo, como galáxias e
aglomerados; é ela que “segura” estes objetos imensos, não deixando que
se desfaçam.
Como curiosidade, a proposta de uma matéria escura na década de 1930
por Fritz Zwicky não foi levada a sério porque o suíço tinha entrado em
atrito com muitos colegas na comunidade astronômica. Em 1962, a
astrônoma Vera Rubin fez a mesma descoberta, que novamente não foi
levada à sério, desta vez porque ela era uma mulher. Ela persistiu e
conseguiu atenção da comunidade em 1978, com um estudo profundo de 11
galáxias, inclusive a nossa.
Energia escura
A energia escura tem sua origem nos trabalhos para entender a
expansão acelerada do universo. Basicamente, a teoria atual não consegue
explicar essa aceleração. Uma das especulações é que a aceleração é
consequência de uma nova forma de matéria, apelidada “energia escura”,
que também não foi detectada até agora.
É chamada de “escura” porque deve interagir muito fracamente com a
matéria, como a matéria escura, e é chamada de energia porque uma das
coisas de que estamos certos é que ela contribui com cerca de 70% da
energia total do universo. Se descobrirmos o que é, podemos então trocar
o nome para algo menos misterioso.
Com o estabelecimento do modelo cosmológico do Big Bang,
acreditava-se que a expansão inicial de 13,7 bilhões de anos atrás
estaria diminuindo com o tempo, mas duas equipes de pesquisadores
independentes descobriram em 1998 que a expansão estava acelerando.
A aceleração é determinada pela medida dos tamanhos relativos do
universo em diferentes eras. De uma forma específica, os astrônomos
medem o redshift ou desvio para o vermelho do espectro e a distância da
luminosidade de explosões estelares chamadas supernovas tipo 1a.
O tempo que a luz da supernova leva para chegar aos telescópios é
descoberto examinando a distância da luminosidade, enquanto a mudança do
tamanho do universo entre a explosão e a observação é determinada pelo
desvio para o vermelho. Uma comparação destes tamanhos em uma sequência
de tempo revela que o universo está crescendo cada vez mais rápido.
Desde esta descoberta, os equipamentos ficaram mais sensíveis e os dados
foram confirmados pela medição de outros fenômenos cosmológicos.
A teoria da relatividade prevê que a aceleração cósmica é determinada
pela densidade média de energia e pressão de todas as formas de matéria
e energia no universo. Só que as quantidades da matéria normal, da
energia normal, e da matéria escura não respondem pela densidade de
energia necessária para a aceleração – tem que ser outra coisa.
Uma das hipóteses mais aceitas é que o universo é preenchido por um
mar de energia quântica de ponto zero, que exerce uma pressão negativa,
como uma tensão, fazendo com que o espaço-tempo sofra uma repulsão
gravitacional. É a chamada constante cosmológica, introduzida por
Einsten em outro contexto (e referida por ele como seu maior erro).
E como a energia escura afeta o universo atualmente? Ela é
responsável pela aceleração cósmica, e equipes internacionais de
astrônomos estão trabalhando para refinar a medida desta aceleração.
Dela depende o julgamento da constante cosmológica de Einstein, uma
possível compreensão da teoria fundamental da natureza (gravidade
quântica e o estado quântico do universo), e o destino do universo (Big
Chill ou Big Rip?).
Diferenças entre as duas
As duas, matéria escura e energia escura, possuem diferenças enormes.
A matéria escura atrai e a energia escura repele, ou seja, a matéria
escura é usada para explicar uma atração gravitacional maior que o
esperado, enquanto a energia escura é usada para explicar uma atração
gravitacional negativa.
Além disso, os efeitos da matéria escura se manifestam em uma escala
de 10 megaparsecs (um megaparsec corresponde a 3,2 milhões de anos luz,
aproximadamente) ou menor, enquanto que a energia escura parece que só
se torna relevante em escala de 1.000 megaparsecs ou mais.
Finalmente, é importante questionar se os fenômenos da matéria escura
e da energia escura podem ter uma explicação gravitacional. Talvez as
leis da gravidade sejam diferentes do que desenhou a teoria de Einstein.
Esta é uma possibilidade, só que até hoje a teoria da relatividade não
falhou em nenhum teste. Além disto, novas imagens de aglomerados
revelaram um comportamento que é inconsistente com teorias
gravitacionais alternativas, como a MOND – ou seja, a matéria escura
está ali.
Nossas melhores mentes estão trabalhando no problema e nossa melhor
tecnologia está examinando o cosmos, e, por enquanto, não há outra
explicação para os efeitos que observamos: a matéria escura e a energia
escura são reais. A composição do universo atual, até onde sabemos, é de
4,2% matéria normal, 24% matéria escura e 71,6% energia escura.
Fonte: http://hypescience.com/
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