Ouve-se falar aqui e ali, em fóruns de física, sobre teorias de
multiversos. Realidades paralelas e outros mundos são um assunto
recorrente, principalmente em círculos esotéricos, mas ouvir um físico
falar seriamente disto é outra coisa.
Por que os físicos acreditam que há a possibilidade de existirem múltiplos universos?
Por enquanto, os multiversos dos físicos são hipóteses. Algumas têm
forte embasamento matemático, algumas surgiram como implicação de outras
teorias científicas, algumas não são tão aceitas.
Uma das hipóteses de multiversos surge da mecânica quântica, e é chamada de “Many Worlds”, ou “Muitos Mundos”.
A hipótese é de Hugh Everett III. Segundo ele, quando a função de
onda parece entrar em “colapso” em um evento quântico em nosso mundo,
gerando um determinado resultado, na verdade ela nunca entra em colapso,
e sim torna real todas as outras características implícitas em sua
função de onda em “outros universos”.
Segundo essa teoria, sempre que acontece um evento de muitos eventos
possíveis, todos os outros eventos acontecem em outros universos.
Outra abordagem para explicar os multiversos vem da teoria das
cordas, na qual as equações fazem “sentido” matemático em mais de 4
dimensões, possivelmente 10 ou 11, e ao longo destas dimensões
“enroladas”, outros universos florescem.
Estas duas hipóteses de multiversos são resultados de cálculos e previsões teóricas, como a previsão da existência do pósitron.
Em 1928, Paul Dirac resolveu a equação para o elétron e percebeu que
haviam níveis de energia positivos. Em vez de descartar a energia
negativa como um resultado matemático sem contraparte no mundo real, ele
interpretou a mesma como pertencente a um “anti-elétron”, prevendo a
existência de partículas que ninguém imaginara antes.
Mas será que todas as soluções matemáticas para as equações da física sempre resultam em descobertas reais?
Segundo Brian Greene, um dos teóricos que trabalha com a teoria das
cordas, o número de universos é infinito, e a ordem deste infinito é a
mesma dos pontos em uma linha de números reais.
Os pontos em uma linha reta são infinitamente “densos”, já que entre
quaisquer dois pontos da reta, não importa o quão próximos estejam,
sempre há outro ponto. Se existe mais de universo e eles estão tão
compactados assim, nós devemos estar experimentando algum fenômeno
resultante destes infinitos universos.
A teoria dos “muitos mundos” também não é melhor. Onde estão os
outros universos, resultados das opções em nível quântico que não foram
escolhidas no nosso universo, que não se tornaram eventos para nós?
Existe uma terceira hipótese que implica a existência de multiversos:
a da inflação cósmica. Segundo Alan Guth, em sua palestra “Inflationary
Cosmology, The Origin of Density Perturbations, and the Door to the
Multiverse” (“Cosmologia Inflacionária, A Origem das Perturbações da
Densidade, e a Porta para o Multiverso”), o processo de inflação que
seguiu-se ao Big Bang pode ter dado origem a outros universos.
A inflação é um campo com certas características, como, por exemplo,
ser um campo escalar, como o campo de Higgs,. Alguns físicos acreditam
que o campo de Higgs pode ter participação na inflação.
A intensidade do campo inflacionário começa em um valor instável, e a
partir desta situação, dispara o crescimento exponencial do universo,
produzindo o que hoje vemos: um universo “plano”, ou matematicamente
euclidiano.
As imperfeições quânticas neste processo, que aparecem no mapa da radiação cósmica de fundo, causam a formação das galáxias.
O campo inflacionário termina de inflar nosso universo e então para;
mas, como ele é um campo quântico, sujeito a flutuações quânticas, na
verdade não pode parar, e as flutuações quânticas então migram para
outro lugar, iniciando novamente a inflação cósmica.
Este processo dá origem a um número infinito de universos, só que a
ordem deste número infinito é conhecida como “alef-zero”, ou seja, a
ordem do infinito de números inteiros e racionais. É menos densa que a
de pontos em uma linha real e isto faz com que esta teoria seja mais
“palatável” para quem não se sente confortável com infinitos universos
entre dois átomos.
A teoria da inflação é apoiada por alguns cientistas, principalmente
porque suas previsões teóricas se comprovaram nas irregularidades da
radiação cósmica de microondas de fundo. Novos universos surgiriam
depois que a inflação terminasse neste universo, um novo universo por
vez, em um processo eterno e infinito.
Fonte: http://www.science20.com/
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