quinta-feira, 11 de março de 2010

Maior máquina do mundo ficará parada por um ano

A interrupção será feita para consertar erros cometidos desde a construção
                                                                                                                                       Foto por Johannes Simon/16.06.2008/Getty Images
A maior máquina do mundo, com 27 km de comprimento, foi inaugurada
em 10 de setembro de 2008 e custou o equivalente a R$ 10,42 bilhões

O Grande Colisor de Hádrons (LHC), a maior máquina do mundo com 27 km de comprimento, ficará um ano sem funcionar a partir do final de 2011. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (10) por Steve Myers, diretor da Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN), durante entrevista à rede britânica BBC.

A parada vai acontecer para que sejam resolvidos alguns erros cometidos desde a construção da máquina, enterrada a mais de 100 m do solo entre França e a Suíça.


Sua função é produzir colisões de partículas com a maior energia possível, imitando as condições no momento seguinte à criação do Universo.
O principal desafio é encontrar a partícula Bóson de Higgs, só descrita na teoria, e base para a explicação de diversos conceitos físicos.

O LHC foi religado no começo deste mês depois de uma interrupção técnica no Natal. Myers disse que não há erros graves no projeto.


- Com muito mais recursos, mais mão de obra e controle de qualidade, alguns problemas poderiam ser evitados, mas não acho que foi um erro de construção. 


A aceleração recorde para uma máquina foi superada pelo LHC em 2009, quando chegou a 1,18 TeV (teraelétron-volt), mas deve chegar a 7 TeV até o final deste mês. Myers contou que o plano de atingir 14 TeV nos próximos dois anos deve ser adiado. 

A maior máquina do mundo foi inaugurada em 10 de setembro de 2008 e custou o equivalente a R$ 10,42 bilhões. Sua construção envolveu 7 mil físicos de todo o mundo e durou 12 anos.

Menos de duas semanas depois da inauguração, o LHC teve um problema de superaquecimento e foi desligado. Cinquenta e três dos 1.624 grandes ímãs supercondutores (alguns deles com 50 m de comprimento) foram danificados e precisaram ser substituídos.

Em novembro de 2009, a máquina precisou ser desligada novamente porque um pedaço de pão, provavelmente levado por um pássaro, obstruiu o transformador elétrico.

O equipamento gigante chegou a despertar temores infundados de que poderia criar buracos negros capazes de destruir a humanidade. O aparelho foi citado no best-seller Anjos e Demônios, de Dan Brown.

Fonte: http://noticias.r7.com/noticias

quinta-feira, 4 de março de 2010

O garoto de meio milhão de jogadas

Essas são as possibilidades que o norueguês Magnus Carlsen,
o novo número 1 do ranking, enxerga diante do tabuleiro. Aos 19 anos, ele é o grande nome de uma geração de enxadristas criada com os recursos dos computadores

Alexandre Salvador

Pal Hansen

APRENDIZADO VIRTUAL
Carlsen, grande mestre desde os 13 anos, só treina com softwares: ele não se lembra se tem em casa um tabuleiro convencional

 

 

 

 

 

 

Diante de um tabuleiro de xadrez, o norueguês Magnus Carlsen é capaz de proezas notáveis – principalmente para um jovem de apenas 19 anos. Sua memória guarda meio milhão de jogadas possíveis. Isso significa dispor de resposta pronta para praticamente qualquer lance do adversário. Não bastasse esse imenso arsenal, ele também consegue prever os vinte lances seguintes de uma partida, de acordo com suas movimentações iniciais e as de seu adversário. Carlsen encarna um personagem que gozava de grande popularidade num passado não muito distante – o gênio do xadrez. Até a década de 90, as disputas entre os grandes enxadristas eram televisionadas e eletrizavam o planeta. Os jogadores eram festejados como heróis e tinham seus passos seguidos com curiosidade. O interesse pelo xadrez diminuiu consideravelmente. Magnus Carlsen, pela precocidade e pela velocidade com que vem galgando degraus na carreira, é o primeiro enxadrista em condições de virar celebridade desde então.

Em 2004, com apenas 13 anos, Carlsen derrotou o antigo campeão mundial, o russo Anatoly Karpov, e empatou com o também russo Garry Kasparov, então o número 1 do ranking da Federação Internacional de Xadrez (Fide). No mesmo ano, recebeu o título de grande mestre, a mais alta qualificação de um enxadrista, equivalente à faixa preta nas artes marciais. No ano passado, Carlsen venceu dois torneios cruciais, um na China e outro na Inglaterra, e a recompensa veio no início deste mês. A Fide o colocou na primeira posição no ranking global dos jogadores de xadrez. "Desde a aposentadoria de Kasparov não surgia um jogador de primeiro time que fosse carismático, que atraísse a simpatia do público, como Carlsen", disse a VEJA o americano William Hall, diretor executivo da federação americana de xadrez.

Magnus Carlsen é o grande nome de uma geração de enxadristas que guarda diferenças significativas com os campeões do passado. Boa parte da popularidade desfrutada pelo xadrez nos anos 60 e 70 se devia à exploração ideológica do jogo promovida pelos Estados Unidos e pela União Soviética durante a Guerra Fria. Os soviéticos foram os maiores campeões de xadrez no século XX, mas sua hegemonia era constantemente ameaçada pelos americanos, e as disputas se tornaram instrumentos de marketing na polarização entre capitalismo e comunismo. No século passado, apenas um americano, Bobby Fischer, conquistou o título de campeão mundial de xadrez, em 1972, derrotando o russo Boris Spassky. A partida entre ambos, que durou um mês e meio e foi acompanhada atentamente em todos os quadrantes do planeta, ganhou o apelido grandioso de "o jogo do século".

A característica da geração de enxadristas a que pertence Magnus Carlsen é que ela foi forjada sob forte influência dos computadores e dos softwares de xadrez. Numa entrevista recente, Carlsen não soube dizer se tinha em casa um tabuleiro de xadrez convencional – seu treino, que lhe toma de seis a oito horas diárias, é todo feito com o computador. Em maio de 1997, causou enorme repercussão a derrota de Garry Kasparov na partida que disputou com o supercomputador Deep Blue, construído pela IBM. Parecia incrível que a inteligência cibernética sobrepujasse a humana. Mal se sabia o que estava por vir. Naquele tempo, os programas de xadrez eram apenas grandes bancos de dados de jogadas, anteriormente catalogadas em livros para consulta. Com o avanço da tecnologia e a chegada da internet, os softwares ficaram mais espertos. Além de ser possível atualizá-los com os lances das partidas recém-jogadas, o computador já pode simular o estilo de jogo dos melhores enxadristas, ou seja, imitar soluções criadas por jogadores de carne e osso. "Com os programas de xadrez atuais, é muito difícil vencer a máquina, tanto por sua velocidade de processamento de dados quanto pela qualidade dos lances", diz o enxadrista carioca Darcy Lima, detentor do título de grande mestre e membro do conselho da Fide.

Isso significa que, para derrotarem os computadores, os jogadores têm de ser mais inteligentes? Não necessariamente. Disse a VEJA o psicólogo cognitivo Fernand Gobet, da Universidade Brunel, em Londres, autor de pesquisas que relacionam o xadrez com a inteligência de seus praticantes: "Hoje está provado que o QI não é fator decisivo para se tornar um grande jogador de xadrez. O mais importante é começar a jogar o mais cedo possível, ter motivação para aprender sempre mais sobre o jogo e treinar muito. Só assim se chega a guardar na memória meio milhão de jogadas". Essa foi a trajetória percorrida por Magnus Carlsen. 

Fonte: http://veja.abril.com.br/

A maçã que mudou o mundo

Manuscrito do século XVIII, agora publicado na internet, conta como Isaac Newton começou a elaborar a lei da gravidade ao observar uma macieira nos jardins de sua casa. Ao contrário da lenda, a fruta não caiu na sua cabeça

Laura Ming

Fotos AP 

EM PRIMEIRA MÃO
Capa do manuscrito do biógrafo Stukeley: o autor ouviu pessoalmente de Newton (no detalhe) o relato de como chegou às suas teorias
 
 
"Por que a maçã sempre cai perpendicularmente ao chão?, perguntou-se Newton. Por que ela não se move para os lados, ou para cima, mas sempre em direção ao centro da Terra? Certamente, porque a Terra a atrai. Tem de haver uma força de atração envolvida nisso."

Trecho do manuscrito de William Stukeley
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Numa tarde de primavera em 1726, um ano antes de sua morte, o físico inglês Isaac Newton sentou-se no jardim para tomar chá com um amigo, o antiquário William Stukeley, que se tornaria seu biógrafo. Apontando para as macieiras em volta, o pai da ciência moderna relatou como tiveram início as investigações que o levaram a formular a lei da gravidade, a explicar o movimento dos planetas e, em última análise, a finalmente dar um sentido a tudo o que acontece no universo. Newton disse-lhe que tudo começou quando viu uma maçã cair da árvore, o que o levou a perguntar: por que a maçã não se move para os lados ou para cima? Só pode ser porque uma força a atrai para a Terra, ele concluiu. A descrição desse diálogo consta do manuscrito elaborado por Stukeley em 1752, Memoirs of Sir Isaac Newton’s Life (Memórias da Vida de Sir Isaac Newton), que desde a semana passada pode ser lido na internet. 
 
O documento encontra-se guardado na Royal Society, a lendária associação de cientistas ingleses. Neste ano, ela completa 350 anos de existência, e, para celebrar a data, a entidade decidiu publicar em seu site vários documentos famosos. Além do manuscrito de Stukeley, podem ser lidos no site originais do filósofo inglês John Locke, entre outros documentos. Todos esses textos podem ser encontrados em edições impressas - mas a leitura do original, com a letra do autor, tem especial sabor. "O episódio de Newton com a maçã é um dos mais famosos da ciência, por isso resolvemos publicá-lo", disse a VEJA Keith Moore, diretor da biblioteca da Royal Society.

A leitura de William Stukeley serve para desmentir duas falácias comumente associadas ao episódio de New-ton com a maçã. O primeiro é que a maçã teria caído sobre sua cabeça. Essa informação sempre rendeu ilustrações e charges divertidas, mas não é verdadeira. A segunda é que, diante da maçã caindo da árvore, Newton teria tido um estalo genial e formulado a lei da gravitação universal. Ele ainda levaria vinte anos se debruçando sobre seus estudos até publicá-la em sua obra mais conhecida e mais notável, Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, conhecida pela abreviatura Principia. A história da ciência é rica em episódios nebulosos, mais conhecidos por versões deturpadas ou cuja veracidade é duvidosa.

Foi justamente por meio da Royal Society que Isaac Newton publicou a Principia. Na obra, ele disseca a primeira lei verdadeiramente universal da natureza produzida pela ciência. New-ton explica que existe uma força de atração entre todos os corpos do universo, relacionada à sua massa e à distância entre eles. Isso explica por que os planetas giram em torno do Sol e a Lua gira em torno da Terra. É também por isso que os homens e os animais não são lançados para o espaço, mesmo com a Terra girando a mais de 1 600 quilômetros por hora na região do Equador (essa velocidade diminui à medida que se aproximam os polos). A lei explica ainda os movimentos das marés, resultado da atração da massa lunar sobre as águas dos oceanos. Além disso, a Principia contém os fundamentos da mecânica clássica:

• Lei da inércia - Todo objeto tende a ficar parado ou em movimento uniforme, a não ser que uma força aja sobre ele.
• Princípio da dinâmica - A aceleração de um objeto é proporcional à força aplicada sobre ele.
• Princípio da ação e reação - A toda ação corresponde uma reação, de mesma intensidade, mas em sentido oposto.

A publicação da Principia rendeu a Newton fama imediata. Suas teorias forneciam explicações para um conjunto tão grande de fenômenos, tanto no mundo palpável do dia a dia quanto nas esferas celestes, que mudaram a compreensão que as pessoas tinham do mundo à sua volta. Embora festejado, Newton manteve o comportamento excêntrico que sempre o caracterizou. Solitário, com fama de teimoso e mal-humorado, colecionou uma série de extravagâncias. Era religioso, mas pertencia a uma seita herética chamada arianismo, que negava a Santíssima Trindade. Em 1936, o economista John Maynard Keynes arrebatou num leilão um maço de trabalhos de Newton e constatou, surpreso, que eles relatavam experiências no campo da alquimia - tentativas de transformar metais comuns em metais preciosos. Nenhuma dessas esquisitices apaga o brilho formidável do cientista que mudou a percepção da humanidade a respeito do mundo - a partir de uma simples maçã. 

Fonte: http://veja.abril.com.br/