Após duas décadas de sondagens e debates, um equipe russa finalmente chegou até o lago Vostok.
O maior e mais fundo dos lagos escondidos por baixo do gelo da
Antártida, o Vostok tem se mantido isolado por milhões de anos e pode
conter microrganismos especialmente adaptados. “Tenho certeza que eles
estão bebendo vodca nessa semana”, comenta John Priscu, pesquisador da
Universidade Estadual de Montana, que esteve em contato com a equipe que
alcançou o Vostok.
De acordo com o diretor do programa russo, Valery Lukin, a furadeira
chegou ao lago a 3.769,3 metros, no dia 5 de fevereiro. Apesar da equipe
de cientistas ter coletado amostras, que provavelmente são de um bolsão
de água acima do lago, eles terão que esperar até dezembro para extrair
amostras congeladas do lago, e até 2013-14 para conseguir água
descongelada. “Isso é um degrau tecnológico. O retorno científico ainda
vai levar muitos anos”, comenta Mahlon Kennicutt, presidente do Comitê
Científico Internacional de Pesquisas da Antártida.
O projeto Vostok começou como um esforço para examinar condições
climáticas antigas. No meio da década de 90, os cientistas confirmaram
que um lago gigante existia por baixo do gelo, e especularam que a água
poderia conter sinais de vida ancestral.
No fim dessa década, a comunidade de pesquisadores concordou que a
escavação do Vostok deveria parar até que os cientistas tivessem certeza
que o lago estaria seguro de contaminações pelo querosene ou fréon
usados na escavação. O processo começou de novo em 2005, com um novo
plano: quando a escavação se aproximasse do lago, seria substituída por
uma broca termal, para derreter o gelo, e um fluído de silicone que iria
ajudar a proteger as águas do querosene restante.
Apesar de não haver certeza da técnica usada pela equipe russa, ela
deve ter evitado a contaminação. Quando a escavadeira chegou ao lago, a
água fluiu até 40 metros do buraco, forçando 1,5 metros cúbicos de
fluído até o topo do buraco. “Se tudo aconteceu como eles disseram, o
único movimento foi para fora do lago, e não para dentro”, afirma
Kennicutt.
A água do lago no topo do buraco vai congelar, e os pesquisadores
planejam retirá-la na próxima estação. Devido ao querosene e ao processo
de congelamento, é improvável que essas amostras contenham algo vivo.
A equipe russa planeja explorar o lago em 2013-14, usando uma
variedade de sondas, câmeras e amostras de água carregadas em containers
selados.
Enquanto isso, a Inglaterra e os Estados Unidos planejam retirar
amostras de água e sedimentos de diferentes lagos subglaciais da
Antártida um ano antes, em 2012-13. Ambos os projetos vão usar água
aquecida para abrir buracos que vão durar 24 horas – um processo rápido,
que vai permitir à equipe britânica cavar 3,1 quilômetros de gelo até o
lago, em 3 dias. O gelo mais grosso do Vostok e as temperaturas menores
tornariam esse processo muito longo para ser usado.
Kennicutt espera que os três lagos a serem estudados ajudem a formar o
começo de um entendimento maior sobre as centenas de lagos que estão
por baixo do gelo na Antártida. “Eles não estão em extremos de pressão e
temperatura, mas são limitados em nutrientes e energia”, comenta. Se a
vida for confirmada dentro desses locais inóspitos, “a questão será como
os micróbios conseguem sobreviver ali”.
Fonte: http://www.nature.com/
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