Dores súbitas no peito é o marco clássico de um ataque cardíaco. Mas
um grande estudo mostra que muitas pessoas que são levadas para
hospitais devido a ataques cardíacos nunca tiveram tais dores, e, como
resultado, acabam não tratando o evento de maneira rápida.
As consequências podem ser especialmente mortais no caso de mulheres
jovens ou de meia idade. Em um novo estudo, com 1,1 milhões de pessoas,
surpreendentes 42% das mulheres admitidas em hospitais por ataques
cardíacos nunca tiveram uma dor no peito. Elas também têm mais chance de
morrer após um ataque; a taxa de mortalidade entre as mulheres, no
estudo, foi de quase 15%, comparado a 10% entre os homens.
“O que vemos é que muitas das mulheres não têm a clássica
apresentação de um ataque cardíaco”, afirma o médico John G. Canto,
autor do estudo. “Então elas podem não reconhecer um ataque cardíaco, e
possivelmente algumas dessas pacientes chegam tarde demais para os
procedimentos de salvamento”.
Doenças cardíacas são a causa principal de mortes entre homens e
mulheres em todo o mundo, matando cerca de sete milhões por ano. Até a
década de 80, o ataque era considerado um problema principalmente
masculino, e muitos estudos que focavam apenas em homens formaram um
quadro típico, e estreito, dos sinais de um ataque cardíaco: dor no
peito, falta de ar e dor radiante no pescoço, costas, mandíbula e
braços.
Mas pesquisas melhores, desde então, mostraram que além das mulheres
exibirem esses sintomas, elas também têm mais chances de mostrarem
outros menos associados com um ataque, como distúrbios de sono e fadiga
severa inexplicável nos dias e semanas anteriores, assim como suar frio,
fraqueza e tontura durante o ataque.
No novo estudo, Canto e seus colegas usaram dados do registro
nacional americano de pessoas admitidas em hospitais por ataques
cardíacos, entre 1994 e 2006, para analisar as diferenças nos sintomas e
níveis de mortalidade entre homens e mulheres.
As análises mostraram que as dores no peito são de fato o sintoma
mais frequente de um ataque cardíaco, tanto em mulheres quanto em
homens. Mas uma minoria considerável dos pacientes, cerca de 35% do
total, nunca apresentou as dores.
Em mulheres com menos de 55 anos que tiveram ataques cardíacos, mas
não apresentaram desconforto no peito, o risco de morte no hospital foi
de duas a três vezes maior do que homens com a mesma idade e sintomas
clássicos de ataque. Mas “a diferença declinou e quase desapareceu com o
aumento de idade”, afirma Canto.
Ninguém sabe exatamente porque os sintomas de ataque cardíaco são
diferentes entre homens e mulheres, mas Canto especula que muitos
fatores podem estar envolvidos, incluindo hormônios. Muitas mulheres que
tomam pílulas anticoncepcionais, por exemplo, tendem a ter vasos
sanguíneos e artérias mais “grudentos” do que homens.
“Nós também sabemos que entre as mulheres, especialmente as mais
jovens que tiveram ataques cardíacos, o mecanismo de formação do coágulo
sanguíneo no coração pode ser diferente do que entre homens jovens”,
afirma.
Canto afirma que aqueles que estão tendo um ataque cardíaco, mas não
sentem as dores no peito, podem não se dar conta do que está
acontecendo, e quando se apresentam para um tratamento, o médico pode
não considerar imediatamente a possibilidade de um ataque,
principalmente no caso de mulheres. Como resultado, as chances de ir
imediatamente para cirurgia ou outros procedimentos caem.
Para o médico Mario Garcia, da Associação Americana do Coração, a
realidade é que muitos médicos tendem a não pensar que mulheres jovens
tenham ataques cardíacos, e elas também não procuram tanta atenção
médica nesse caso.
“Homens são rápidos para correr até um especialista”, afirma Garcia,
que não esteve envolvido no estudo. “As mulheres se preocupam mais com o
marido do que com elas mesmas”.
Fonte: http://well.blogs.nytimes.com/
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