A origem da lua é um problema que têm mantido os cientistas ocupados há bastante tempo. Na década de 1950, haviam três hipóteses
sobre o acontecimento: uma que dizia que a Terra girava tão rápido que
espirrou um pedaço que virou a lua; uma que dizia que a lua passou perto
demais da Terra e foi capturada; e a que dizia que a Terra e a lua se
formaram juntas, já uma em órbita com a outra.
No final da década de 1960 e início da década de 1970, com o
resultado da análise do solo lunar feito pelas sondas Surveyor e a
análise das amostras de solo trazidas pelos astronautas da Apolo, essas
teorias foram abandonadas e uma nova teoria foi estabelecida: a do Big
Splat, ou grande colisão.
Segundo esta teoria, uma colisão planetária entre a Terra e um
planeta hipotético, Teia, 4,6 bilhões de anos atrás, teria dado origem à
lua. Há inclusive simulações mostrando como isto explica a inclinação
do eixo da Terra e da órbita da lua, por exemplo.
Recentemente, três trabalhos, um publicado na revista Nature e dois
outros na Science, provaram que realmente a teoria do Big Splat é a mais
provável de todas (o trabalho publicado na Nature) e acrescentaram
elementos esquisitos e misteriosos à ela (os dois outros trabalhos).
Segundo a teoria atual, um corpo do tamanho de Marte atingiu a Terra,
ejetando uma quantidade enorme de detritos (restos da colisão) em
órbita. Esses “pedaços” formaram um anel, que mais tarde se reuniram em
um corpo: a lua que conhecemos.
Essa teoria se impôs às outras em parte por causa das evidências
químicas. As rochas lunares têm falta de elementos como sódio, potássio,
zinco e chumbo. Estes elementos são chamados de “voláteis” porque
evaporam e se dissipam mais facilmente da rocha vaporizada. Outros
elementos não evaporam tão fácil e a presença de uns e ausência de
outros é considerada uma evidência da colisão.
Só que tem alguns problemas: quem examina as rochas lunares espera
encontrar uma coisa chamada “fracionamento isotópico”. Isótopos mais
leves viram vapor mais rápido que os mais pesados, então as rochas
lunares devem ser ricas em isótopos pesados. Mas as análises feitas até
agora não retornaram nada.
Pelo menos até agora. Um trabalho publicado na revista Nature relata a
descoberta de isótopos pesados de zinco nas amostras de solo trazidas
pelas missões Apolo. Esta é considerada a primeira grande evidência de
que as rochas foram vaporizadas.
É aqui que as coisas começam a ficar estranhas e misteriosas. É quase
certo que a lua se originou de uma colisão entre a Terra e outro corpo,
mas o outro corpo era grande ou pequeno? A colisão era de alta
velocidade ou baixa velocidade?
Os dois trabalhos publicados na Science respondem estas perguntas, mas com respostas opostas.
O primeiro estudo, conduzido pelo cientista Robin Canup, sustenta que
o corpo que atingiu a Terra não era do tamanho de Marte, era maior.
Na simulação de Canup, os dois planetas tinham mais ou menos metade
da massa atual da Terra. A colisão teria ocorrido em baixa velocidade,
em duas etapas, onde primeiro eles se encontrariam e depois colidiriam
novamente, fundindo-se em um só corpo 27 horas depois do primeiro
contato.
Nesta teoria, a rocha que evaporou e entrou em órbita da Terra teria se agregado e formado a lua.
O segundo estudo, conduzido pelos cientistas planetários Matija Ćuk e
Sarah T. Stewart, ambos da Universidade de Harvard (EUA), apresenta um
tipo diferente de impacto.
Nesta hipótese, Teia seria menor que Marte, e o impacto seria de alta
velocidade. Mas os dois trabalhos têm algo em comum: os dois dependem
de um modelo de Terra em alta rotação, o que era considerado impossível
até pouco tempo.
Já sabemos que a Terra está desacelerando à medida que a lua se
afasta. É um equilíbrio de momento angular: a lua ganha momento angular
que rouba da rotação da terra. O momento angular do sistema permanece
constante. Em outras palavras, para cada distância da lua e da Terra, há
um valor correto para a velocidade da rotação da terra.
O dia, que hoje dura 24 horas, durava 5 horas no passado, segundo as
teorias atuais. Mas para os dois trabalhos sobre o impacto darem certo, é
preciso que a Terra tivesse uma rotação 2 a 2,5 vezes mais rápida do
que se acreditava possível um pouco antes do impacto. Ou seja, o momento
angular teria que ter variado depois do grande impacto.
Até alguns meses atrás, os cientistas achavam isto impossível. Então
os mesmos Ćuk e Stewart apresentaram um trabalho em que apresentavam
evidência de um fenômeno chamado “ressonância de eveção” (“evecton
resonance”, no original).
Segundo esta hipótese, o momento angular do sistema Terra-lua foi
diminuído de 2 a 2,5 vezes logo depois do impacto através de uma
interação gravitacional bastante complicada entre a Terra, o sol e a
recém-formada lua.
Como já dissemos, os dois trabalhos recentes sobre a origem da lua se
baseiam no mesmo fenômeno, a ressonância de eveção, mas possuem três
grandes diferenças:
- Ćuk e Stewart estavam trabalhando com colisões de alta velocidade, diferente de Canup;
- os primeiros consideram que Teia seria pequeno, em vez de grande;
- Ćuk e Stewart queriam ver o que aconteceria quando o corpo que colidiu encontrasse uma Terra girando em torno de seu eixo a cada 2 a 2,5 horas.
Os dois modelos não são só diferentes entre si, como também diferem
do modelo do Big Splat original. Os dois não podem ser verdadeiros ao
mesmo tempo. Agora, só nos resta esperar para ver quem está certo (o que
vai demorar, já que ainda não sabemos como determinar isso).
Fonte: http://hypescience.com/
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