Há cerca de vinte anos, começou a ganhar força a “hipótese da
higiene”, segundo a qual o excesso de limpeza, ao eliminar bactérias
além do necessário, enfraqueceria nosso sistema imunológico e aumentaria
o número de casos de alergias. A ideia se confirma? De acordo com
estudo recentemente divulgado, a resposta é “não exatamente”.
Analisando dados coletados por mais de duas décadas, uma equipe de
pesquisadores concluiu que a relação entre higiene em excesso e maior
ocorrência de determinadas doenças é mais complexa do que parece à
primeira vista. “O aumento nos casos de alergias e doenças inflamatórias
parece ser causado, em parte, por uma perda de contato com micróbios
com os quais nosso sistema imune evoluiu desde a Idade da Pedra”,
explica o professor Graham Rook.
Outros fatores, como predisposição genética, estresse, poluição e
falta de atividade teriam consequências mais graves, por conta de
“sistemas imunológicos desregulados”, devido a essa perda de contato com
certos micro-organismos. Além de alergias, o risco de ser afetado por
inflamações crônicas (como esclerose múltipla e diabetes tipo 1) também
cresce por conta desse enfraquecimento do sistema imune.
“Desde o começo do século 19, quando alergias passaram a ser mais
notadas, a variedade de micróbios com os quais convivemos vem mudando
constantemente”, aponta o pesquisador Stanwell Smith. Naquele tempo, a falta de higiene tinha
um preço muito alto (em Londres, 1 em cada 3 mortes era de uma criança
com menos de 5 anos, na maior parte das vezes causada por infecções), o
que provocou uma série de mudanças: consumo de água potável, lavagem
mais cuidadosa de alimentos, saneamento e até mesmo uso excessivo de
antibióticos.
“Embora tenham sido vitais para nos proteger de doenças infecciosas,
essas mudanças também alteraram, de modo inadvertido, nossa exposição a
‘amigos microbianos’”, disse. Ou seja, junto com bactérias nocivas,
bactérias que ajudavam a regular e fortalecer nosso sistema imunológico
também sofreram as consequências daquelas medidas higiênicas. Mudanças
ambientais causadas pelo crescimento das cidades também fizeram com que
perdêssemos contato com esses “velhos amigos”.
Contudo, não adianta simplesmente se expor a mais bactérias e
abandonar hábitos de higiene. “Ainda não está claro como nós podemos
reverter a situação atual de alergias e inflamações crônicas”, aponta
Rook. “Há muitas ideias sendo exploradas, mas afrouxar a higiene não vai nos reunir de volta com nossos ‘velhos amigos’ – apenas irá nos expor a novos inimigos”.
“Algo importante que podemos fazer”, avalia a professora Sally
Bloomfield, “é parar de falar sobre ‘ficar muito limpo’ e fazer as
pessoas pensarem sobre como podemos, de forma segura, nos reconectar com
o tipo certo de sujeira”.
Fonte: http://www.sciencedaily.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário