Na astronomia, lidamos com objetos muito mais tênues do que a vista
humana consegue captar, às vezes tão tênues que mesmo um olho
artificial, como uma câmera fotográfica, tem que ficar aberto durante
horas para registrar o objeto: é a chamada fotografia de longa
exposição.
O Telescópio Espacial Hubble é capaz de fazer fotografias de longa
exposição, mas de um tipo que não poderia ser feito aqui na Terra.
Para tanto, o telescópio seleciona uma pequena região do céu onde
aparentemente não há nada, um trecho completamente escuro. Em seguida,
seu sensor aponta para aquela região por 11 dias. O resultado final é
incrível, e já gerou imagens belas, como as do Campo Ultra Profundo Hubble (HUDF).
Na imagem abaixo, cada ponto de luz é uma galáxia: são cerca de 10.000 somente naquele pequeno trecho do céu.
Fazendo uma extrapolação para o céu inteiro, que é 10 milhões de
vezes maior que o trecho fotografado pelo Hubble, os astrônomos chegaram
a um número incrível: o nosso universo deveria ter no mínimo 100
bilhões de galáxias.
Mas este não é o fim da história. Existem galáxias que tem o brilho
mais fraco ainda, que 11 dias de observação do Hubble não são
suficientes para captar. E existem também galáxias que tem sua luz
desviada para o vermelho além da faixa captada pelos filtros vermelhos
do Hubble. Quantas galáxias não apareceriam a mais se os astrônomos
tivessem um pouco mais de paciência?
Foi o que fizeram. Repetiram o mesmo processo, só que durante um
período de 23 dias, espalhados pelo período de uma década, mais do que o
dobro do tempo do Campo Ultra Profundo, e em uma região ainda menor.
O resultado é o Campo Extremamente Profundo do Hubble (XDF).
A imagem parece familiar porque uma uma parte do campo ultra profundo
foi escolhida para ser fotografada ainda mais profundamente.
E, sem surpresas, ainda mais galáxias apareceram na mesma região do
espaço. A imagem abaixo serve de comparação: trata-se da mesma região do
espaço, tanto no HUDF (esquerda) quanto no XDF (direita):
Bastante impressionante, não? O XDF tem talvez 75% mais galáxias por
trecho de céu que o HUDF! Aplicando este resultado para o céu inteiro, o
número de galáxias do universo passam de no mínimo 100 bilhões para no
mínimo 175 bilhões de galáxias.
Novamente, a aplicação deste resultado é feita multiplicando o número
de galáxias encontradas pelo XDF – 5.500 -, pelo número de vezes que
cabe o XDF no céu inteiro – cerca de 32 milhões. Veja a comparação do
XDF com o tamanho da lua, em um quadrado que cobre um ângulo de 1°.
Mas este ainda não é o fim da história. Ainda há um novo capítulo a
ser escrito. O XDF foi feito para captar mais galáxias que estão a uma
distância entre 5 e 9 bilhões de anos-luz, fracas demais para serem
captadas pelo HUDF. Mas ele encontrou a maioria das novas galáxias na
região além dos 9 bilhões de anos-luz.
Só que esta região, além dos 9 bilhões de anos-luz, é uma região em
que as galáxias estão com o redshift (desvio para o vermelho) além da
sensibilidade do Hubble. Para captar a imagem de mais galáxias,
precisamos de um telescópio tão poderoso quanto o Hubble, mas que
trabalhe na região do infravermelho.
O Telescópio Espacial James Webb (JWST) será este telescópio. Quantas
galáxias veremos com este telescópio que vai trabalhar apenas na faixa
do infravermelho? Alguns estimam que o número mínimo de galáxias passe
da casa do trilhão.
Enquanto o JWST não fica pronto, lembramos do Hubble, e de que quanto mais olhamos, mais e mais galáxias encontramos.
Fonte: http://blogs.discovermagazine.com/crux/
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