Alfa Centauri
é o sistema estelar mais próximo ao nosso. É um sistema triplo, com as
estrelas Alfa Centauri A e Alfa Centauri B girando em torno de um centro
comum em um sistema estelar binário.
Essas duas estrelas brilhantes, uma bem parecida com o nosso sol,
compartilham uma órbita binária relativamente próxima, e estão no nosso
“quintal cósmico”, a cerca de 4,3 anos-luz de distância de nós.
Essa proximidade e possível semelhança conosco tornou o sistema
bastante interessante aos cientistas, que queriam explorar sua
capacidade de habitar planetas.
Depois de anos de pesquisa, os astrônomos finalmente avistaram um
planeta com a mesma massa da Terra em Alfa Centauri. Embora o planeta
orbite muito perto de sua estrela-mãe para hospedar vida, sua descoberta
abre a possibilidade de o sistema hospedar mais mundos, talvez mais
hospitaleiros.
Segundo Xavier Dumusque, do Observatório de Genebra, na Suíça, encontrar tais mundos será um desafio, no entanto.
Até agora, os “caçadores de planetas” descartaram a presença de gigantes gasosos semelhantes a Júpiter em Alfa Centauri.
Enquanto isso, encontrar planetas menores com os métodos disponíveis exigiu paciência. Usando o Observatório La Silla, no
Chile, Dumusque e colegas passaram quatro anos tentando detectar o
planeta em torno de Alfa Centauri B, a menor das duas estrelas. O
meticuloso processo incluiu cerca de 450 observações da pequena
oscilação gravitacional que o planeta induz em Alfa Centauri B conforme a
orbita.
A equipe calcula que o novo planeta tem cerca de 1,13 vezes a massa
da Terra, o que significa que é provável que tenha uma composição
rochosa, como a nossa. No entanto, um “ano” no planeta equivale a pouco
mais de três dias da Terra – ou seja, ele não deve ser tão parecido
conosco assim.
“A temperatura da superfície deve ser de centenas – milhares – de
graus. Há talvez lava flutuando no planeta”, especulou Dumusque.
Ainda assim, planetas tendem a não ser solitários, de modo que o
sistema deve ter outros mundos, provavelmente rochosos também. Há uma
chance de algum ser detectado na zona habitável, a região em torno da
estrela mais propensa a abrigar a vida como a conhecemos (nesse caso, um
pouco mais longe de Alfa Centauri B).
Essa é uma boa notícia, certo? É só mandarmos uma missão para o
sistema estelar mais próximo ao nosso, e ver se tem vida lá, não é
mesmo?
Não. Para visitar nossos vizinhos, precisaríamos levar algumas
bibliotecas para viagem. Mesmo com a nave espacial mais rápida do mundo
atualmente, a sonda Helios-2, o trajeto a Alfa Centauri levaria 19.000
anos, assumindo que viajássemos em alta velocidade o tempo todo, o que é
improvável.
Por enquanto, nada indica que teremos tecnologia suficiente para
chegar lá mais rápido muito cedo. A mídia tem desafiado o empresário
espacial Elon Musk, fundador da SpaceX, a se envolver em um projeto rumo
a Alfa Centauri, mas, a não ser que ele ou outros milionários resolvam
investir em novas ideias para criar uma nave mais rápida, isso não deve
acontecer em breve.
Se alguém aceitar o desafio, poderia recorrer a projetos como o do
físico Freeman Dyson, que em 1968 sugeriu que alguém enviasse sua
espaçonave idealizada Orion para o sistema de estrelas Alfa Centauri.
Ele a imaginou sendo alimentada por ondas de choque de uma série de
explosões nucleares. Viajando em pouco mais de 3% da velocidade da luz,
ela chegaria no sistema em apenas 133 anos, por um custo igual a apenas
10% do PIB dos EUA.
Mesmo que pudéssemos chegar até, digamos, o novo planeta descoberto
em Alfa Centauri B, seria muito difícil que sobrevivêssemos, afinal, ele
é quente demais para nós (sem contar a provável lava flutuante).
Supondo que até lá já tenhamos um traje especial contra tamanho calor
e já tivéssemos superado qualquer outra dificuldade, quando
colocássemos nossos pés no planeta e olhássemos para cima, o céu noturno
não seria muito diferente do da Terra, já que ele está tão próximo de
nós (veríamos a mesma parte do universo que vemos daqui).
A maior diferença estaria na constelação de Cassiopéia. Quando vista
da Terra, ela parece cinco estrelas em forma de W, mas de Alfa Centauri
adquiriria uma sexta estrela – o nosso próprio sol.
E se os astronautas, enquanto observassem nosso sol como uma estrela
no céu de Alfa Centauri sentissem saudades de casa e tivessem uma antena
extremamente sensível, poderiam sintonizar nossa TV – mas só
conseguiriam assistir repetecos.
Isso porque as transmissões de rádio e TV viajam a partir da Terra à
velocidade da luz. Agora, Alfa Centauri está pegando nossas transmissões
de cerca de quatro anos e quatro meses atrás.
Isso significa que qualquer habitante daquele sistema estelar está
agora acompanhando o final da quarta temporada de Lost e, em poucos
meses, verão Barack Obama ser eleito presidente dos EUA – pela primeira
vez, é claro.
Qual é o nome do novo planeta? Tradicionalmente, exoplanetas herdam o
nome de sua estrela-mãe, e o primeiro planeta descoberto do sistema é
denominado “b”, o próximo “c” e assim por diante.
O sistema Alfa Centauri é binário. O novo planeta orbita Alfa Centauri B. Seu nome oficial, portanto, é Alfa Centauri B b.
Chato, não? Não podemos pensar em um nome melhor?
Bem da verdade, ao longo dos anos, já pensamos em vários nomes para os “ficcionais” planetas de Alfa Centauri.
O sistema é famoso e bastante popular em filmes e tramas sci-fi.
Embora os planetas “de mentirinha” de Alfa Centauri orbitem mais
frequentemente a estrela maior do par, nunca foram nomeados simplesmente
por uma letra do alfabeto ocidental.
Em sua série Foundation, Isaac Asimov concedeu o nome “Alfa” para um
mundo orbitando Alfa Centauri A. Arthur C. Clarke apelidou seu mundo de
“Pasadena” no livro The Songs of Distant Earth (As Canções da Terra
Distante). O filme Avatar se passa em Pandora, uma lua que orbita o
gigante de gás Polifemo (nome tirado de um ciclope da mitologia grega)
em torno de Alfa Centauri A, enquanto os jogadores do game Sid Meier’s Alpha
Centauri são desafiados a colonizar um planeta fictício chamado Chiron.
Com 19.000 anos para chegar lá, tenho certeza que teremos tempo de inventar nomes ainda melhores.
Fonte: http://www.newscientist.com/