Como classe, somos os seres humanos mais fracos que já andaram no
planeta. De acordo com uma nova pesquisa da Universidade de Cambridge
(Reino Unido), a tecnologia pode ser a responsável por nos tornar mais
lentos e fracos que todos os nossos antepassados.
Muitos
aborígines australianos pré-históricos poderiam ultrapassar o
recordista mundial Usain Bolt, nas condições atuais. Alguns tutsis, povo
da Ruanda, já superaram o recorde mundial de salto em altura de 2,45
metros durante cerimônias de iniciação nas quais eles tinham que saltar
pelo menos a sua própria altura para avançar para a idade adulta.
Qualquer mulher Neandertal poderia ter ganhado uma queda de braço contra
Arnold Schwarzenegger.
Por que somos tão fracos?
Segundo
a pesquisadora Alison Macintosh, a evolução provocou mudanças na
divisão do trabalho e na organização socioeconômica. Conforme homens e
mulheres começaram a se especializar em determinadas tarefas e
atividades, como o trabalho com metal e cerâmica, a produção agrícola e a
criação de gado, isso afetou a mobilidade e força dos humanos modernos.
A pesquisa
Macintosh
monitorou as alterações na estrutura óssea ao longo do tempo em
esqueletos encontrados em cemitérios na Europa Central. O mais antigo
datava de 5.300 aC e o mais recente de 850 dC.
A sua equipe chegou
à conclusão de que os humanos modernos mostram um declínio na
“mobilidade e resistência”, especialmente os homens.
A
cientista descobriu que a mobilidade dos primeiros agricultores – 7.300
anos atrás – estava a nível de estudantes que são corredores
profissionais hoje. Em pouco mais de três mil anos, nossa mobilidade foi
reduzida para o nível de estudantes classificados como sedentários.
A teoria para explicar isso é que, com o tempo, nossos ossos da perna mudaram devido à atividade menos intensa.
“Ambos
os sexos apresentaram uma queda em ântero-posterior, uma queda de
fortalecimento do fêmur e da tíbia através do tempo, enquanto que a
capacidade das tíbias masculinas de resistir à flexão, torção,
compressão e caiu também”, disse Macintosh.
Ela acrescentou que,
conforme os seres humanos fizeram a transição para a agricultura na
Europa Central, a necessidade de viagens de longa distância e do
trabalho físico pesado diminuiu. “À medida que as pessoas começaram a se
especializar em outras tarefas, poucas estavam fazendo regularmente
atividades que eram muito extenuantes para suas pernas”, afirma.
Os
ossos das pernas das mulheres mostraram alguma evidência de mobilidade
em declínio, mas essas tendências eram “inconsistentes”.
Ela acha
que a variação pode ser devido ao fato de que as mulheres têm realizado
mais “multitarefas” ao longo do tempo. Macintosh disse que havia
evidência em dois dos mais antigos esqueletos femininos usados para
análise de que elas realizaram tarefas com os dentes, o que significa
que podem não ter feito trabalhos que requeriam ossos da perna mais
fortes.
Perda explicável
De acordo com o Macintosh, os ossos são extremamente plásticos e respondem com uma rapidez surpreendente a mudanças.
Quando
estão sob estresse, como longas caminhadas ou corridas, os ossos se
tornam mais fortes, e fibras são adicionadas ou redistribuídas onde são
mais precisas.
Macintosh afirma que, na Europa Central, a
tecnologia e o aumento da especialização teve um grande impacto na nossa
força nas pernas. “À medida que mais e mais pessoas começaram a fazer
uma ampla variedade de atividades, menos pessoas precisaram ser
altamente móveis, e com a inovação tecnológica, as tarefas fisicamente
extenuantes foram provavelmente facilitadas”, disse. “O resultado global
é uma redução na mobilidade da população como um todo, acompanhada por
uma redução na força dos ossos dos membros inferiores”.
Os incríveis humanos do passado
Um
novo livro, “Manthropology: The Science of the Inadequate Modern Male”
(algo como “Homemtropologia: A Ciência do Inadequado Humano Moderno”, em
tradução livre), escrito pelo antropólogo australiano Peter McAllister,
concorda bastante com a pesquisa de Macintosh.
Na obra,
McAllister fala sobre estudos que chegaram a conclusões sobre a
velocidade de aborígines australianos 20.000 anos atrás, baseadas em um
conjunto de pegadas de seis homens perseguindo uma presa. Uma análise
levou os cientistas a estimar que os aborígenes corriam a uma velocidade
de 37 quilômetros por hora por um lago lamacento. Bolt, por comparação,
atingiu uma velocidade máxima de 42 quilômetros por hora durante seu
recorde no 100 metros na Olimpíada de Pequim.
McAllister afirma
que, com treinamento e sapatos modernos em uma faixa de corrida, os
caçadores aborígines poderiam ter alcançado velocidades de 45
quilômetros por hora. “Se eles podem fazer 37 quilômetros por hora em
terreno muito macio, suspeito que há uma forte probabilidade de que eles
teriam superado Usain Bolt se tivessem todas as vantagens que ele tem
hoje”, diz.
Aliás,
essa é só uma evidência de pegadas fossilizadas, do que poderiam nem
mesmo ser os mais rápidos caçadores aborígenes da época.
Passando para o salto em altura, McAllister afirma no livro que fotografias tiradas por um antropólogo alemão mostram jovens africanos saltando alturas de até 2,52 metros nos primeiros anos do século passado.
“Era
um ritual de iniciação, todo mundo tinha que fazer isso. Eles tinham
que ser capazes de saltar a sua própria altura para avançar para a
masculinidade”, conta. “Era algo que eles faziam o tempo todo e tinham
vidas muito ativas a partir de uma idade muito precoce. Eles
desenvolveram habilidades fenomenais no salto”.
Além disso,
McAllister escreve que uma mulher Neandertal tinha 10% mais massa
muscular do que o homem europeu moderno. Se treinada corretamente, ela
teria alcançado 90% do volume de Schwarzenegger em seu auge na década de
1970. “Mas, por causa da peculiaridade de sua fisiologia, com um braço
inferior muito mais curto, ela iria ganhar dele à mesa sem nenhum
problema”, explica.
Muitos outros exemplos são dados no
“Manthropology”. Por exemplo, legiões romanas completavam mais de uma
maratona e meia por dia transportando mais de metade do seu peso em
equipamentos, enquanto Atenas teve 30.000 remadores que podiam superar
as conquistas de todos os remadores modernos.
McAllister apoia a
mesma teoria de Macintosh sobre o declínio humano. “Nós simplesmente não
somos mais expostos às mesmas cargas ou desafios que as pessoas no
passado antigo e mesmo no passado recente eram expostas. Mesmo nossos
atletas de elite não chegam perto de replicar isso. Estamos tão inativos
desde a revolução industrial que realmente retrocedemos em robustez”.
Fontes: http://www.voanews.com/
http://www.independent.co.uk/news/science/
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