No geral, um chimpanzé tem duas vezes a força de um ser humano quando
puxa pesos. Os nossos parentes primatas nos batem em força nas pernas,
também: um estudo de 2006 descobriu que os bonobos podem saltar um terço
mais alto do que os melhores atletas humanos, e suas pernas geram tanta
força quanto os humanos quase duas vezes mais pesados.
Antigamente,
havia um boato que os nossos colegas primatas eram cinco vezes mais
fortes do que nós. Isso veio de um estudo conduzido pelo biólogo John
Bauman, que usou um dispositivo chamado de dinamômetro para calcular a
força de animais do Jardim Zoológico do Bronx (EUA). Aparentemente, uma
das chimpanzés no estudo conseguiu puxar 570 kg. Em outros testes feito
por Bauman, um animal diferente puxou 384 kg.
Como isso se compara
com os seres humanos? Como professor universitário em Dakota do Sul,
Bauman fez o que qualquer bom cientista faria: recrutou o time de
futebol americano para comparar sua pesquisa com chipanzés aos humanos.
Os jogadores não conseguiram puxar mais do que 226 kg. Além disso, eles
podiam usar o dinamômetro como quisessem, enquanto os chimpanzés tinham
sido forçados a puxar o aparelho a partir de uma postura desajeitada em
suas gaiolas.
Assim, parecia de fato que os chimpanzés poderiam ser mais do que cinco vezes mais fortes do que os humanos.
Sem
dúvida, os chimpanzés são diferentes de nós. Seu estilo de vida, com
muita escalada, acentua a necessidade de força no braço. Um chimpanzé em
quatro pernas pode facilmente ultrapassar um corredor humano de classe
mundial. Mas soa extremo sugerir que são tão cinco vezes mais fortes que
nós, não?
Tanto que primatólogos recentes, como Jane Goodall e Sue Savage- Rumbaugh, discordam desse número.
E
a teoria de Bauman foi refutada ainda mais cedo, já em 1943, por Glen
Finch da Universidade Yale (EUA), que testou a força do braço de oito
chimpanzés cativos. Um chimpanzé macho adulto conseguiu puxar o mesmo
peso que um homem adulto. Uma vez que as medidas foram corrigidas para
seus tamanhos corporais, ficou provado que os chimpanzés eram mais
fortes do que os seres humanos, mas não por um fator de cinco.
Testes
repetidos na década de 1960 confirmaram a teoria de Finch e chegaram à
conclusão de que, no geral, chipanzés têm duas vezes a força de um ser
humano quando se trata de puxar pesos.
Não se sabe direito como
Bauman conseguiu errar tanto em seus cálculos, mas o próprio biólogo
achava que a agitação dos animais que testou contribuiu para sua força
(como uma mãe carregada de adrenalina consegue levantar um ônibus para
salvar seu filho). Cientistas posteriores tendem a se concentrar em seu
procedimento de medição imperfeito.
Números exagerados à parte, é fato que os chimpanzés e outros macacos são mais fortes do que os humanos.
Nossa
arquitetura geral do corpo faz a diferença: mesmo que os chimpanzés
pesem menos do que os humanos, mais de sua massa está concentrada em
seus braços poderosos.
Outro
fator, ainda mais importante, parece ser a estrutura dos próprios
músculos. O músculo esquelético de um chimpanzé tem fibras mais longas
do que o equivalente humano e pode gerar o dobro do volume de trabalho
ao longo de um intervalo mais amplo de movimento.
Nos últimos
anos, os geneticistas também identificaram o local de algumas destas
diferenças anatômicas, como, por exemplo, o gene MYH16, que contribui
para o desenvolvimento de grandes músculos da mandíbula em outros
primatas. Nos seres humanos, o MYH16 foi desativado.
Muitas
pessoas também perderam outro gene relacionado ao músculo chamado ACTN3.
Pessoas que ainda têm duas versões ativas deste gene são muitas vezes
velocistas de elite, enquanto aquelas com a versão não ativa estão bem
representadas entre os corredores de resistência. Os chimpanzés e todos
os outros primatas não humanos têm apenas uma versão ativa.
Além
disso, o biólogo evolutivo Alan Walker crê que os seres humanos podem
não ter a mesma força de chimpanzés porque os nossos sistemas nervosos
exercem maior controle sobre os músculos.
Esse controle motor fino impede grandes feitos de força, mas nos permite realizar tarefas delicadas e exclusivamente humanas.
Essa
hipótese deriva em parte de uma constatação da primatologista Ann
MacLarnon, que mostrou que, em relação à massa corporal, os chimpanzés
têm muito menos massa cinzenta em suas medulas espinhais do que os seres
humanos. Massa cinzenta espinhal contém um grande número de neurônios
motores – as células dos nervos que ligam às fibras musculares e regulam
o movimento muscular.
Mais matéria cinzenta em humanos significa mais neurônios motores, e mais neurônios motores significa mais controle muscular.
Podemos
usar apenas algumas fibras musculares para tarefas delicadas como
enfiar uma linha em uma agulha, enquanto usamos muito mais fibras para
tarefas que exigem mais força. Como os chimpanzés têm menos neurônios
motores, cada neurônio desencadeia um maior número de fibras musculares,
e usar um músculo torna-se uma proposição do tipo “tudo ou nada”. Como
resultado, chimpanzés muitas vezes acabam usando mais músculos do que
precisam.
Fontes: http://www.smithsonianmag.com/
http://www.slate.com/articles/health_and_science/science/
http://www.livescience.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário