Todos nós estamos ficando mais velhos. A média de vida do ser humano
dobrou nos últimos cem anos: quem tem 60 anos parece e se sente como se
tivesse 40 e os cinquentões são os novos jovenzinhos de 20. Porém,
rótulos de idade à parte, ainda estamos envelhecendo da mesma maneira
que sempre o fizemos, e com isso o nosso risco de morrer aumenta
dramaticamente.
Uma vez que você se aproxima de seus 30 anos, as suas (inicialmente
pequenas) chances de falecer vão dobrando a cada década que se segue. No
gráfico a seguir, você percebe que as probabilidades de você morrer
logo no início da vida são relativamente grandes. Depois, essa chance
cai drasticamente até o meio da infância e vai subindo. Atenção você que
tem 19, 20 anos: suas chances de passar dessa para melhor são maiores
agora do que as do seu primo de 28 anos.
O que intriga os biólogos evolucionistas, no entanto, é como e por que os seres humanos apresentam uma curva de mortalidade tão característica. Com o tempo, a seleção natural deve melhorar a capacidade de uma espécie de sobreviver e se reproduzir. Então, por que morrer de velhice? Alguma mutação qualquer que aumenta o risco de morte dos indivíduos deveria ter sido erradicada em algum momento ao longo do caminho evolutivo, certo?
Até o século 20, muitos biólogos pensavam que a seleção natural
favorecesse a velhice, pois abria espaço para gerações futuras. Se
muitos indivíduos permanecessem vivos, o grupo como um todo sofreria.
Mas há um problema com essa lógica: quanto mais um animal vive, mais
descendentes ele geralmente deixa. A morte pode criar mais espaço, mas
isso não vai ajudar uma espécie a sobreviver.
Na década de 1940, os biólogos J.B.S. Haldane e Peter Medawar
sugeriram uma explicação alternativa. Na maioria das espécies, os
indivíduos costumam ser mortos antes de chegarem à velhice. A dupla
argumentou que, como a sobrevivência da espécie repousa sobre indivíduos
mais novos, a seleção natural não deve favorecer mutações prejudiciais
que afetam os jovens.
Em contraste, apenas alguns indivíduos sobrevivem à idade avançada,
por isso a evolução não foi tão eficiente assim eliminando as mutações
que são prejudiciais para os idosos. Em outras palavras, as pessoas
idosas estão em uma “sombra da evolução”: as mutações que conduzem à
velhice – e os seus efeitos negativos – se fazem presente à medida que a
espécie evolui ao longo do tempo, sem a intromissão da evolução para
que essas mutações desapareçam.
Era uma boa teoria, mas na época não havia nenhuma evidência de que a
seleção natural poderia eliminar mutações nocivas aos jovens, mas
deixá-las passar em idosos. A descoberta veio em 1966, quando William
Hamilton abordou o problema matematicamente. Ao examinar a relação entre
evolução e mortalidade, ele mostrou que as mutações nos grupos mais
velhos têm menos efeito sobre a sobrevivência, a longo prazo, de uma
espécie. Assim como Haldane e Medawar haviam previsto, a “força da
seleção natural” diminui com a idade.
O trabalho de Hamilton foi um avanço significativo, mas possuía
algumas falhas. Primeiro, Hamilton assumiu que a seleção natural fosse
linear, como se duas cópias de uma mutação tivessem o dobro do efeito
prejudicial de uma. Ele também fez sua análise presumindo que a
população fosse geneticamente igual (o que é impossível), com todos os
indivíduos tendo o mesmo número e o mesmo tipo de mutações.
Este ano, pesquisadores das Universidades de Berkeley, na Califórnia,
e de Oxford, no Reino Unido, chegaram a uma solução para o problema. O
grupo encontrou uma maneira de ver como diferentes tipos de mutações
prejudiciais moldam o padrão etário da mortalidade quando a seleção
natural não é linear. O trabalho possibilitou tomar pressupostos
específicos – como a taxa de mutações ou como essas modificações estão
espalhadas por toda a população – e transformá-los em previsões sobre o
processo de envelhecimento.
Uma das previsões dos pesquisadores foi particularmente curiosa. No
modelo de Hamilton, se as mutações nocivas afetam apenas os idosos, a
seleção natural produz uma relação de inclinação ascendente entre idade e
mortalidade. Entretanto, no novo e mais complexo modelo, essa relação é
significativamente alterada: em uma população geneticamente diversa, as
mutações prejudiciais se espalham, fazendo com que o risco de morte
suba para todos os adultos.
A ordem é restaurada se as mutações que prejudicam os grupos mais
velhos também são levemente prejudiciais para os indivíduos mais jovens.
Neste caso, a seleção natural impede que muitas mutações problemáticas
se acumulem ao longo do tempo.
Porém, há ainda questões pendentes sobre o processo de
envelhecimento. Por exemplo, a nova pesquisa não pode explicar por que
algumas espécies sobrevivem tanto tempo depois que param de se
reproduzir. A estrutura social pode desempenhar um papel decisivo, com
os grupos mais velhos alimentando os mais jovens, mas não pode
influenciar a força da seleção natural: as mutações presentes em um
indivíduo não aparecem de repente em seus amigos e familiares.
Ainda assim, a capacidade de examinar as teorias sobre a mortalidade
desta forma é uma nova ferramenta útil para os biólogos evolucionários.
As abordagens matemáticas estão fornecendo uma nova visão sobre outras
áreas da evolução também. Da explicação de por que nós cooperamos com
nossos semelhantes até a revelação de como os vírus evoluem e se
espalham, a mais fundamental das ciências agora está ajudando a
responder a algumas das questões mais fundamentais sobre a vida – e a
morte.
Fonte: http://io9.com/
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