O infinito não é um número, não é uma medida: é uma ideia, que
representa o que não tem limites ou fim. O conjunto dos números
naturais, por exemplo, é infinito, por que não importa qual o número que
você tem, sempre poderá adicionar 1 e obter o número subsequente.
Mesmo sendo a representação de uma ideia, e não um número, o infinito
tem algumas propriedades numéricas que permitem que a gente trabalhe
com ele.
Por exemplo, se representarmos esta ideia com o símbolo ∞, podemos
escrever ∞ + 1 = ∞, que pode ser interpretado com “se algo não tem fim,
você pode somar 1 e ela ainda será sem fim”.
A coisa mais importante sobre o infinito é que – ∞ < x < ∞,
onde x é um número real, que é uma abreviação para a frase "menos
infinito é menor que qualquer número real, e infinito é maior que
qualquer número real".
Algumas operações com o ∞ são indefinidas, como, por exemplo, ∞ + ∞ =
∞, ou - ∞ + - ∞ = ∞. Além disso, existem também os conjuntos com
infinitos elementos, e a ideia de tamanhos diferentes de infinitos.
Mas o mais bizarro são os paradoxos que temos com os números
infinitos. Um paradoxo é uma noção verdadeira que desafia nossa
intuição, ou até mesmo a lógica. Vejamos alguns paradoxos envolvendo o
infinito:
1. Hotel de Hilbert
Imagine um hotel com infinitos quartos, e que todos eles estão ocupados.
Chega um viajante no hotel, e pede para se hospedar. Só que não tem
vagas; apesar de ter infinitos quartos, o hotel já está totalmente
ocupado.
Mas o gerente é um sujeito que não manda ninguém embora, e faz o
seguinte: pede para o hóspede do quarto 1 se mudar para o quarto 2, o
hóspede do quarto 2 se mudar para o quarto 3, o hóspede do quarto 3 se
mudar para o quarto 4, e assim por diante.
E pronto, o hotel que estava cheio, agora tem uma vaga para o novo
hóspede. Usando esta estratégia, o gerente do hotel pode acomodar um
novo hóspede, 10 novos hóspedes, um milhão de novos hóspedes, ou até um
número infinito de novos hóspedes.
Este paradoxo foi proposto pelo matemático alemão David Hilbert, e é
um paradoxo porque a nossa definição de hotel cheio é que não há vagas
para novos hóspedes. Mas se o hotel tiver infinitos quartos, mesmo que
todos eles estejam cheios, ainda assim dá para acomodar um conjunto de
novos hóspedes, até mesmo infinitos novos hóspedes.
2. Trombeta de Gabriel
A Trombeta de Gabriel, ou a Trombeta do Anjo Gabriel, ou ainda a
Trombeta de Torricelli é uma superfície na forma de um funil (ou de
trombeta). Ela começa larga e vai afinando rapidamente, mas nunca fica
fechada – ou seja, segue até o infinito.
A superfície da trombeta é infinita, mas o volume que ela envolve não
é infinito (uma ideia matemática). Suponha que você tenha que pintar de
dourado o lado de dentro desta trombeta. A superfície dela é infinita,
então você precisa de uma quantidade infinita de tinta, certo? Bem, você
pode pegar uma quantia finita de tinta, correspondendo ao volume da
trombeta, e jogar esta tinta na trombeta, deixando ela escorrer.
Você pode escolher aí o que vai te deixar mais desconfortável: se é
uma superfície infinita envolver um volume finito, ou se é uma quantia
finita de tinta cobrir uma superfície infinita.
O discípulo de Galileu Evangelista Torricelli foi o primeiro a pensar
neste problema, que ele achou tão extraordinário que a princípio
imaginou que tivesse feito alguma coisa errada.
Outros filósofos e matemáticos ficaram tão horrorizados com os
paradoxos que surgiam com o infinito, que chegaram a propor o banimento
da ideia.
3. O enigma do jogo de dardos
Suponha que você tem um alvo, um dardo, e 100% de certeza que irá
acertar o alvo em alguma parte. Agora pense na ponta do dardo, o ponto
matemático exato da sua extremidade, e pense em um ponto matemático no
alvo. A pergunta é, qual a probabilidade que aquele ponto tem de ser
atingido pelo dardo?
Podemos começar supondo que há uma chance maior que zero daquele
ponto ser atingido pelo dardo. Só que aí começam os problemas. Se há uma
chance maior que zero de um ponto ser atingido, então há uma chance
maior que zero para todos os outros pontos, de que eles serão atingidos
pelo dardo. Mas existem infinitos pontos no nosso alvo.
Se você somar as probabilidades de todos os pontos, vai chegar à
conclusão de que o alvo todo tem uma probabilidade infinita de que ser
atingido, o que não faz sentido, já que esta probabilidade não pode ser
maior que 100%.
E o que acontece se imaginarmos que a probabilidade de um ponto ser
atingido é zero? Se a probabilidade de acertar aquele ponto particular é
zero, então ela é zero para todos os outros pontos, e se somarmos as
probabilidades de todos os pontos para ter a probabilidade de acertar o
alvo, ela é zero. Mas temos certeza de que o alvo será atingido, como
pode ser zero, então?
4. Duplicando seu dinheiro
Imagine que um cassino esteja oferecendo um novo jogo. O jogo começa com
um real no banco de apostas. A pessoa joga uma moeda. Se sair cara, o
que tem no banco de apostas é dobrado, se sair coroa, o jogo termina e o
jogador ganha o que tiver no banco de apostas.
Quanto você pagaria para entrar neste jogo? Ou quanto seria justo
para o cassino cobrar? Se você souber um pouco de matemática já deve ter
ouvido falar em “esperança matemática”, ou seja, em um jogo envolvendo
probabilidade do ganho esperado. E qual o ganho esperado neste jogo?
A maioria provavelmente apostaria R$ 5,00, talvez um pouco mais, mas o
que a matemática diz é: “aposte o que você tiver, a esperança de ganho é
infinito”. O jogador tem probabilidade de 50% de ganhar R$ 1, 25% de
probabilidade de ganhar R$ 2, 12,5% de ganhar R$ 4, e assim por diante. O
valor esperado é a soma da probabilidade multiplicada pelo valor do
prêmio, assim:
E = 1/2 + 1/2 + 1/2 + 1/2 + …
Esta é uma soma de infinitas frações 1/2, e o resultado é infinito.
Ou seja, matematicamente falando, a esperança matemática de ganho é
infinita. Mas, paradoxalmente, muita pouca gente está disposta a pagar
alguma coisa a mais que R$ 20,00 para jogar este jogo.
Obviamente, estamos falando de um cassino hipotético, capaz de
colocar quanto dinheiro for necessário no banco de apostas. Na prática,
haverá um limite para o prêmio máximo, e também para o número máximo de
jogadas (ninguém vai ficar lançando uma moeda infinitas vezes). Talvez o
paradoxo surja daí: ninguém espera ou consegue entender um cassino
capaz de cobrir um prêmio infinito ou uma série infinita de caras em uma
série infinita de lances de moeda.
Fonte: http://hypescience.com/
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