Professor Mustafá Ali Kanso
Vou tentar abordar de forma sucinta um dos conceitos mais estranhos
de mecânica quântica e que será um dos principais diferenciais da
computação quântica quando comparada a computação tradicional.
Trata-se do conceito de entrelaçamento quântico, também denominado emaranhamento quântico ou ação assombrada (ou fantasmagórica) à distância.
Felizmente “mecânica quântica” não é uma religião fundamentalista,
assim seus seguidores não me condenarão ao “fogo eterno de um inferno
quântico” por abordar um tema desse porte de forma tão displicente – sem
o imprescindível tratamento matemático que a define.
Vamos às heresias.
Minha primeira heresia
Numa metáfora, para entender a ideia de entrelaçamento, basta
imaginar dois irmãos gêmeos entrelaçados quanticamente: se um deles
ficar gripado o outro também vai espirrar, mesmo distantes milhares de
quilômetros.
Minha segunda heresia
Como o cerne de nossa explicação está relacionada à spintrônica,
vamos partir do nosso conceito bastante simplificado de spin, imaginando
que se trata meramente da rotação do elétron em torno de seu eixo
(minhas sinceras desculpas aos físicos quânticos – spin é muito mais que
isso!).
Teremos por esta abordagem herética dois estados de spins bem definidos:
- Estado zero-zero ou “up” : a rotação do elétron no sentido horário,
- Estado um-um ou “down”: a rotação do elétron do sentido anti-horário
Vamos imaginar que tomamos uma amostra de gás hidrogênio cujo elétron
solitário de cada um de seus átomos apresenta naturalmente o spin “up”,
e que, por uma ação específica de nosso experimento conseguimos
promover o entrelaçamento do spin de cada um de seus elétrons
solitários.
Dividimos essa amostra em duas porções iguais A e B. Mantemos a
porção A da amostra no nosso laboratório ligada a sensores capazes de
detectar qualquer mudança no spin dos elétrons solitários. Depois
enviamos a porção B para outro laboratório situado numa estação espacial
distante da Terra 10 segundos luz, isso quer dizer que a luz ou
qualquer onda eletromagnética oriunda dessa estação espacial levaria dez
segundos para chegar até a Terra.
Assim que a amostra B chegar à estação espacial a conectamos a um
gerador de campo magnético capaz de inverter o spin dos elétrons
solitários e iniciamos nosso experimento.
Cada vez que o spin dos elétrons solitários da amostra B for
invertido o mesmo ocorrerá com o spin dos elétrons solitários da amostra
A. E de forma completamente inexplicável esta inversão ocorrerá
simultaneamente. Ou seja, sem o atraso de 10 segundos que seria o esperado por qualquer comunicação que ocorresse na velocidade da luz.
Fantasmas velozes
Esse fenômeno provocou muito alvoroço nos meios acadêmicos, pois
aparentemente o entrelaçamento quântico promoveria uma “comunicação”
entre as partículas por algum “agente” mais rápido que a luz, colocando
por terra a Teoria da Relatividade.
Daí o fenômeno ser denominado de ação assombrada ou fantasmagórica à distância.
Apenas sendo um fantasma para burlar o limite da velocidade da luz, ou não?
Atualmente se assume que ocorreu o teletransporte quântico, ou seja,
apenas transporte de informação e não de energia ou matéria conforme o
defendido por Einstein.
É fácil intuir o potencial deste fenômeno na construção de
microprocessadores, memórias de computador e sistemas de comunicação e
criptografia de dados, cujo “delay” entre ação e resposta é nulo e
independe da distância.
Evidentemente ainda existem muitas dificuldades técnicas para serem
vencidas, mas como o noticiado aqui no hypescience, os avanços em
direção ao computador quântico
estão ocorrendo num ritmo tão acelerado que na pior das hipóteses até o
final da década a capacidade e a velocidade de processamento,
armazenagem e tratamento de dados atingirão níveis jamais sonhados.
Fonte: http://hypescience.com/
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