sábado, 13 de outubro de 2012

Spins, abajures e 1001 noites


Professor Mustafá Ali Kanso

Vamos abordar aqui o conceito mãe desta área emergente da tecnologia a denominada spintrônica responsável por alguns prodígios na indústria da informática, tais como:
  • Redução do tamanho dos discos rígidos dos computadores acompanhada pelo aumento extraordinário de sua capacidade de armazenamento.
  • Desenvolvimento de novas memórias RAM (Random Access Memory) as célebres MRAM (Magnetoresistive Random Access Memory) que são capazes de armazenar dados que seriam perdidos caso o computador fosse desligado.

Muitos pesquisadores preconizam que além do armazenamento de dados, a spintrônica pode ser aplicada à fabricação de novos semicondutores capazes de produzir o tão esperado superchip dos computadores quânticos.

O neologismo spintrônica (também conhecida como magnetoelectrônica) é oriundo do conceito “eletrônica baseada em spin”.

Aprendemos em nossas aulas de química básica (de forma bastante simplificada) que “spin” (giro em inglês) representa a rotação do elétron em torno de seu eixo e que pode se dar tanto no sentido horário quanto no sentido anti-horário*.

Dois elétrons com spins contrários são denominados de antiparalelos e apresentam a peculiaridade de gerar campos magnéticos simétricos.

Para melhor entender isso basta imaginar que quando um elétron gira ao redor de seu eixo no sentido horário ele se transforma num diminuto ímã com polo norte apontado para cima e polo sul apontado para baixo. Seu vizinho, que faz uma rotação em sentido contrário, terá exatamente o inverso desta orientação, ou seja, polo norte em baixo e polo sul em cima.

Seguindo esta ideia temos dois estados quânticos básicos para o spin – horário e anti-horário – que numa linguagem aplicada ao mundo digital poderia ser traduzido numa base binária como zero (horário) e um (anti-horário).

Nas entranhas de processamento de um computador todos os números são representados dessa forma, como zeros e uns. Daí esses estados quânticos poderem ser usados para armazenar memória em computadores e também na construção de registradores para microchips.

Para explicar essa história de que todos os números podem ser expressos apenas com zeros e uns vou recordar aqui uma velha piada nerd:

Um jovem geek muito distraído chega à livraria e pede o livro com o título: “As 9 noites”.

A vendedora consulta o acervo e responde:
– Eu tenho apenas o livro “As 1001 Noites”
– É esse mesmo — responde o jovem se justificando – Eu achei que estava em binário!


Para entender a piada imagine que temos quatro abajures cujas cúpulas estão pintadas respectivamente com os números 8, 4, 2 e 1, os quais só aparecem claramente quando os abajures estão ligados.

O número 1001 é o código de estado dos abajures na ordem citada. O número “um” indica abajur ligado e o número “zero” indica abajur desligado.

Com o código binário 1001 estamos dizendo que só se encontram ligados o primeiro abajur (aquele com o número 8 pintado em sua cúpula) e o quarto abajur (aquele com o número 1 pintado em sua cúpula).

Somando-se esses números que aparecem claramente, pois esses abajures estão ligados, temos:

8 + 1 = 9

Ai está a “tradução” do número 1001 em base binária para o número 9, nosso velho conhecido da base decimal.

Daí a velha piada: “As 1001 noites” = “As 9 noites”.

Eu sei. Uma piada quando é explicada não tem a mínima graça! Mas vale para nossa analogia:
  •  cada abajur representa uma unidade de informação, chamada de “bit” (e que pode apenas ter dois valores – um e zero – ligado e desligado);
  •  o sistema de quatro abajures teria no todo quatro “bits”.

Imaginando agora oito abajures ou oito bits (1 byte) (com os números 128, 64, 32, 16, 8, 4, 2 e 1 pintados em suas cúpulas):
  • ligando e desligando os abajures podemos gerar números decimais que vão do zero (todos os abajures desligados) ao 255 (todos os abajures ligados). Some para ver.
(Ei! Essa é uma ótima sugestão para uma decoração geek!).

Assim, nesse sistema de oito bits o nosso bom e velho número nove seria representado:00001001

Você que conseguiu me acompanhar até aqui, deve estar se perguntando, afinal qual é a novidade da spintrônica, se o spin emula os dois estados típicos do mundo binário: 1 e 0?
Uma das novidades está na sobreposição de estados que existe para o spin e também para outros aspectos das partículas do mundo subatômico. Um fenômeno tipicamente quântico.

Em outras palavras, existe um terceiro estado, que seria para nossa analogia a concepção de um abajur quântico que  além de ligado ou desligado, poderia também estar ligado e desligado simultaneamente (Um artigo muito difícil de ser encontrado numa loja de decorações!).


Esse abajur representa uma nova unidade de informação – o bit quântico ou qubit – que por apresentar, por este parâmetro, três estados (00 – desligado, 11 – ligado, e 01- ligado/desligado) revoluciona a forma de trabalhar com os operadores matemáticos da base teórica. A mesma matemática booleana que fundamenta a construção de memórias e de microchips.

Para dar uma ideia deste poder segue uma tabela de conversão:
2 qubits = 4 bits
3 qubits = 8 bits = 1 byte
4 qubits = 16 bits
5 qubits = 32 bits
6 qubits = 64 bits
7 qubits = 128 bits
8 qubits = 256 bits
9 qubits = 512 bits
10 qubits = 1.024 bits
20 qubits = 1.048.576 bits
30 qubits = 1.073.741.824 bits
40 qubits = 1.099.511.627.776 bits
41 qubits = 2.199.023.255.552 bits
42 qubits = 4.398.046.511.104 bits
43 qubits = 8.796.093.022.208 bits = 1 terabyte


Ainda a spintrônica, como base para a computação quântica, apresenta outra propriedade inquietante, a do entrelaçamento quântico, mas bem, esse é um assunto para um próximo artigo. Não perca!

-o-
[* O  conceito de spin é muito mais complexo do que é apresentado neste modelo – ele representa os estados de simetria de diversas partículas subatômicas – veremos também em artigos futuros]

Fonte: http://hypescience.com/

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