Cientistas estão desenvolvendo um remédio para emagrecer que possui o
mesmo efeito da cirurgia de estômago para ajudar pacientes obesos a
perder peso. Os pesquisadores criaram hormônios de efeito duradouro, que
fazem com que os cérebros dos pacientes pensem que eles já comeram o
suficiente. A abordagem imita o que acontece quando pacientes obesos
mórbidos são submetidos a operações bariátricas para ajudá-los a se
livrar da gordura extra.
Os cientistas da Faculdade Imperial de Londres, no Reino Unido,
acabam de terminar os primeiros testes em pacientes com resultados
positivos, e agora estão se preparando para iniciar experimentos
maiores. Eles esperam que o uso da droga se torne uma alternativa mais
segura para a cirurgia, que é cara e possui diversas restrições, só
podendo ser realizada em uma pequena quantidade de pacientes.
Segundo o professor Steve Bloom, chefe da divisão de diabetes,
endocrinologia e metabolismo da faculdade e pesquisador do estudo, a
cirurgia de balão intragástrico (em que uma espécie de bexiga é colocada
no estômago para “roubar” espaço da comida e fazer a pessoa perder a
fome) funciona muito bem em pacientes. “Porém, há uma pandemia mundial
de obesidade, que está levando as pessoas a morrer de doenças
relacionadas. Nós não podemos realizar a cirurgia em metade da Europa,
por exemplo”, diz.
Por isso, conta o professor, a equipe se perguntou se não haveria
outra forma de utilizar o princípio da cirurgia, mas sem a necessidade
da operação em si. “Se você tem um problema com intestino e não aguenta
muita comida, o órgão envia sinais para o cérebro dizendo para que a
pessoa não coma tanto. A cirurgia engana o estômago, que pensa haver um problema e envia essas mensagens de saciedade para o cérebro”, explica Bloom.
De acordo com dados de 2012, 48,5% da população brasileira está acima do peso e 15,8% dos brasileiros são obesos. Nos países desenvolvidos, esse percentual é ainda maior: nos Estados Unidos, por exemplo, a porcentagem de
obesos já chega a alarmantes 35,8% da população, o que ocasiona
diversos outros problemas de saúde, tais como doenças cardíacas,
diabetes e aumento do risco de câncer.
No Brasil, o que assusta os especialistas é o grande crescimento do
número de pessoas que recorrem à mesa de cirurgia para perder peso.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o país é o segundo em número de
cirurgias de redução de estômago no mundo todo, só perdendo para os EUA.
São 72 mil cirurgias por ano, de acordo com o presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o médico Almino
Ramos. E esse número tem crescido 10% ao ano. De 2006 para cá, o
crescimento foi de 275%.
Muitos pacientes que se submetem à operação sofrem complicações e
precisam de uma nova cirurgia e também já houve um pequeno número de
mortes registradas após essas intervenções.
Inicialmente, pensava-se que a cirurgia bariátrica funcionava ao
reduzir a quantidade de alimento que pode ser digerida pelo estômago. No
entanto, foi descoberto, em pacientes operados, níveis elevados de
hormônios da saciedade, os sinais químicos liberados pelo organismo para
controlar a digestão e a sensação de fome no cérebro.
Os pacientes que se submeteram a cirurgia também apresentam menos
vontade de consumir alimentos gordurosos, por isso acredita-se que os
hormônios mudam o desejo dos pacientes para comer.
O objetivo de Steve Bloom e sua equipe é descobrir quanto peso é
possível ser perdido usando três desses hormônios. Em seus experimentos,
pacientes obesos usarão uma bomba intravenosa, mantida em torno de sua
cintura, para liberar doses pequenas e regulares dos hormônios GLP-1,
OXM e PYY no organismo. Esses hormônios normalmente duram apenas alguns
minutos no corpo humano, por isso é preciso que sejam liberados
continuamente.
No entanto, o professor Bloom e seus colegas também desenvolveram
versões desses hormônios que podem durar até uma semana. Isso significa
que os pacientes poderiam controlar seu apetite com uma única injeção
semanal. “O objetivo, a longo prazo, é desenvolver medicamentos de longa
duração, de maneira que as pessoas possam tomar uma injeção uma vez por
semana, sem a necessidade de operação”, conta.
“Cada paciente reage de uma maneira diferente após a cirurgia. Talvez
um terço dos pacientes não perca peso o suficiente, talvez alguns
percam demais e não se pode ajustar esse efeito. No caso de um
medicamento, você pode alterar a dose muito facilmente e isso vai lhe
dar muito mais controle sobre quanto peso cada pessoa perde”, completa.
Fonte: http://www.telegraph.co.uk/science/science-news/
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