Mustafá Ali Kanso
Como prometido em nosso artigo “Calendário Olímpico em um computador de 2000 anos”
retornamos ao tema “OOPART” (Out of Place Artifact), um dos temas
recorrentes na literatura fantástica, como o abordado em alguns de meus
contos, tais como os premiados “Propriedade Intelectual” e “Singulares
Verita” entre outros (A Cor da Tempestade, Multifoco – 2011).
Como vimos, a expressão “OOPART” (Out of Place Artifact) foi cunhada
pelo biólogo Ivan Sanderson Terence para designar objetos relevantes
para a história, arqueologia e paleontologia e que foram descobertos
fora de contexto ou em sítios incomuns, incluindo também artefatos
aparentemente “impossíveis” de serem encontrados naquele local, por
serem anacrônicos ou por possuírem uma tecnologia contrastante com os
demais artefatos encontrados.
Um dos mais célebres OOPART é a bateria de Bagdá, denominação
corrente para um conjunto de artefatos mesopotâmios, cuja criação é
atribuída aos Sassânidas no século I ou II de nossa era.
Tais artefatos foram descobertos em 1936 na aldeia de Khuyut
Rabbou’a, nas proximidades de Bagdá, no Iraque (daí sua denominação
corrente), depois de catalogados como objetos de uso culinário, ou mesmo
potes para armazenagem de pergaminhos, passaram a fazer parte do
acervo do Museu Nacional do Iraque.
Em 1938 o arqueólogo alemão Wilhelm König, então diretor do museu,
fez alguns estudos sobre os artefatos, publicando em 1940 um artigo
especulando que tais objetos poderiam ter sido células galvânicas
(pilhas elétricas), possivelmente usadas para galvanoplastia do ouro em
objetos de prata feitas a partir de soluções de cianeto áurico.
Os artefatos consistem em potes de terracota com cerca de 130 mm de
altura e 70 mm de diâmetro contendo um tubo de cobre (feito de uma fina
lâmina que foi simplesmente enrolada) que abriga uma haste de ferro . No
topo, a haste de ferro é isolada do cilindro de cobre por tampões de
betume, e ambos se projetam para fora do vaso. O cilindro de cobre não é
estanque à água, por isso, se o vaso for preenchido com algum líquido,
tanto a haste de ferro quando o cilindro de cobre serão igualmente
embebidos por ele.
A forte corrosão da haste e do cilindro em todos os objetos forneceu
forte argumento de que teriam sido usados como eletrodos em um tipo
rudimentar de bateria que se utilizaria de algum ácido orgânico, como o
ácido acético do vinagre, ou o ácido cítrico de frutos como a uva, e
atualmente se especula até a utilização de ácido sulfúrico oriundo de
águas vulcânicas.
Do ponto de vista químico, a ideia defendida por König é plausível.
O cobre e o ferro formam, de fato, um par eletroquímico, e na
presença de qualquer eletrólito, como uma solução ácida, por exemplo,
pode fornecer um potencial elétrico mensurável, algo em torno de 0,5 V
em condições padrão de laboratório. (Teoricamente forneceriam cerca de
0,8 V).
Embora não seja uma bateria muito eficiente, tal montagem não faria
feio numa feira de ciências, principalmente se fossem ligadas em série e
em paralelo para que assim aumentassem respectivamente sua voltagem e
sua corrente elétrica.
Além disso, König tinha observado uma série de objetos de prata do
antigo Iraque que foram folheadas com camadas muito finas de ouro, e
especulou que talvez tenham sido galvanizados com tais baterias
elétricas.
Será?
A discussão persiste por mais de 60 anos.
Vários pesquisadores têm apresentados argumentos tanto a favor quanto
contra a interpretação de König e a atenção da mídia tem sido
despertada para esse caso cada vez que se fala em “OOPART”.
Até os Caçadores de Mitos (MythBusters) construíram réplicas desse
artefatos para ver se era realmente possível utilizá-los para
galvanoplastia, repetindo o realizado no programa de Artur
C. Clark em 1980 (Arthur C. Clarke’s Mysterious World – pela BBC) onde o
egitologista Arne Eggebrecht criou um célula galvânica usando suco de
uva e com a qual realizou uma eletrodeposição de ouro sobre prata.
Embora longe de ser completamente resolvida, a polêmica exalta o imaginário popular.
Mesmo para os mais céticos, essa interpretação continua a ser considerada, no mínimo, uma possibilidade curiosa.
Se estiver correta, os artefatos antecederiam em pelo menos 1800 anos
a invenção da célula eletroquímica de Alessandro Volta que deu origem
ao que conhecemos atualmente como pilha elétrica.
Fonte: http://hypescience.com/
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