segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Bateria elétrica de 2000 anos?

Mustafá Ali Kanso

Como prometido em nosso artigo “Calendário Olímpico em um computador de 2000 anos”  retornamos ao tema “OOPART” (Out of Place Artifact), um dos temas recorrentes na literatura fantástica, como o abordado em alguns de meus contos, tais como os premiados “Propriedade Intelectual” e “Singulares Verita” entre outros (A Cor da Tempestade, Multifoco – 2011).

Como vimos, a expressão “OOPART” (Out of Place Artifact) foi cunhada pelo biólogo Ivan Sanderson Terence para designar objetos relevantes para a história, arqueologia e paleontologia e que foram descobertos fora de contexto ou em sítios incomuns, incluindo também artefatos aparentemente “impossíveis” de serem encontrados naquele local, por serem anacrônicos ou por possuírem uma tecnologia contrastante com os demais artefatos encontrados.

Um dos mais célebres OOPART é a bateria de Bagdá, denominação corrente para um conjunto de artefatos mesopotâmios, cuja criação é atribuída aos Sassânidas no século I ou II de nossa era.

Tais artefatos foram descobertos em 1936 na aldeia de Khuyut Rabbou’a, nas proximidades de Bagdá, no Iraque (daí sua denominação corrente), depois de catalogados como objetos de uso culinário, ou mesmo potes para armazenagem de pergaminhos, passaram a fazer parte do acervo do Museu Nacional do Iraque.

Em 1938 o arqueólogo alemão Wilhelm König, então diretor do museu, fez alguns estudos sobre os artefatos, publicando em 1940 um artigo especulando que tais objetos poderiam ter sido células galvânicas (pilhas elétricas), possivelmente usadas para galvanoplastia do ouro em objetos de prata feitas a partir de soluções de cianeto áurico.

Os artefatos consistem em potes de terracota com cerca de 130 mm de altura e 70 mm de diâmetro contendo um tubo de cobre (feito de uma fina lâmina que foi simplesmente enrolada) que abriga uma haste de ferro . No topo, a haste de ferro é isolada do cilindro de cobre por tampões de betume, e ambos se projetam para fora do vaso. O cilindro de cobre não é estanque à água, por isso, se o vaso for preenchido com algum líquido, tanto a haste de ferro quando o cilindro de cobre serão igualmente embebidos por ele.

A forte corrosão da haste e do cilindro em todos os objetos forneceu forte argumento de que teriam sido usados como eletrodos em um tipo rudimentar de bateria que se utilizaria de algum ácido orgânico, como o ácido acético do vinagre, ou o ácido cítrico de frutos como a uva, e atualmente se especula até a utilização de ácido sulfúrico oriundo de águas vulcânicas.

Do ponto de vista químico, a ideia defendida por König é plausível.

O cobre e o ferro formam, de fato, um par eletroquímico, e na presença de qualquer eletrólito, como uma solução ácida, por exemplo, pode fornecer um potencial elétrico mensurável, algo em torno de 0,5 V em condições padrão de laboratório. (Teoricamente forneceriam cerca de 0,8 V).

Embora não seja uma bateria muito eficiente, tal montagem não faria feio numa feira de ciências, principalmente se fossem ligadas em série e em paralelo para que assim aumentassem respectivamente sua voltagem e sua corrente elétrica.

Além disso, König tinha observado uma série de objetos de prata do antigo Iraque que foram folheadas com camadas muito finas de ouro, e especulou que talvez tenham sido galvanizados com tais baterias elétricas.

Será?

A discussão persiste por mais de 60 anos.

Vários pesquisadores têm apresentados argumentos tanto a favor quanto contra a interpretação de König e a atenção da mídia tem sido despertada para esse caso cada vez que se fala em “OOPART”.

Até os Caçadores de Mitos (MythBusters) construíram réplicas desse artefatos para ver se era realmente possível utilizá-los para galvanoplastia, repetindo o realizado no programa de Artur C. Clark em 1980 (Arthur C. Clarke’s Mysterious World – pela BBC) onde o egitologista Arne Eggebrecht criou um célula galvânica usando suco de uva e com a qual realizou uma eletrodeposição de ouro sobre prata. 

Embora longe de ser completamente resolvida, a polêmica exalta o imaginário popular. 

Mesmo para os mais céticos, essa interpretação continua a ser considerada, no mínimo, uma possibilidade curiosa.

Se estiver correta, os artefatos antecederiam em pelo menos 1800 anos a invenção da célula eletroquímica de Alessandro Volta que deu origem ao que conhecemos atualmente como pilha elétrica.

Fonte: http://hypescience.com/

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