A descoberta de um filhote de mamute (Mammuthus primigenius)
perfeitamente preservado sugere que caçadores humanos pré-históricos
roubavam as presas dos leões, como ainda faz a tribo Dorobo, no Quênia,
por exemplo, que rouba os animais abatidos pelos leões.
Bernard
Buigues, da organização Mammuthus – uma iniciativa científica que visa
pesquisar os fósseis encontrados no ártico siberiano – adquiriu o
espécime de caçadores de marfim e de ossos antigos, na própria Sibéria.
Os
cientistas apelidaram o animal de Yuka e, pelos ferimentos encontrados,
acreditam que leões e humanos estão envolvidos na morte do animal.
“Existem evidências dramáticas de uma batalha até a morte entre Yuka e
alguns predadores poderosos, que provavelmente sejam leões”, explica o
especialista em mamutes Daniel Fisher, da Universidade de Michigan. “E
mais interessante é o fato de que humanos entraram na briga”.
Se as investigações que se seguirem comprovarem a análise, essa será a
primeira carcaça encontrada nessa parte do mundo que mostra sinais de
interação entre mamutes, leões e humanos pré-históricos.
Cada
marca na pele do animal é formada por pequenas serrações, que parecem
ter sido provocadas por humanos. “Nós perguntamos diversas vezes para as
pessoas que acharam esse mamute se eles haviam feito isso. Mas sempre
nos responderam que não, o que sugere que estamos olhando para um novo
tipo de interação”, conta Fisher.
Uma
das dúvidas levantadas é se a interferência humana aconteceu perto da
época da morte do animal ou se foi algo que ocorreu muito depois.
Até
então os mamutes viviam no hemisfério norte, mas foram forçados a se
mudar para a Sibéria e para o norte da Europa, quando a era do gelo do
Pleistoceno estava acabando, há cerca de 15 mil anos.
A
análise dos dentes de Yuka já revelou que ele tinha aproximadamente
três anos de idade quando morreu. As maneiras mais usuais de estudar
animais extintos é justamente através da análise de ossos e dentes, pois
levam muito tempo para se decompor. Tecidos, como músculos, pele e
órgãos internos se decompõem mais rapidamente e raramente são
encontrados em carcaças antigas, o que significa que informações vitais
são perdidas.
Mas, em Yuka, por estar em uma verdadeira tumba de gelo, de
aproximadamente 10 mil anos, muitos desses tecidos estão intactos, como
também seus pelos. Segundo o professor de fisiologia evolucionária Kevin
Campbell, da Universidade de Manitoba, no Canadá, Yuka constitui um
grande achado.
De acordo com o pesquisador canadense, outro aspecto interessante é a
coloração dos pelos do animal, que são amarelos e um pouco
avermelhados. Isso permitirá com que os pesquisadores possam estudar e
relacionar os fenótipos (características morfológicas que podemos ver)
desses animais com o genótipo (sequência de DNA).
Os leões em questão (Panthera leo spelea), segundo os
cientistas, são uma subespécie já extinta do leão africano, conhecido
comumente como leões-das-cavernas da Eurásia. “Nós sabíamos que os leões
caçavam mamutes? Bem, nós achávamos que sim. Mas não tínhamos uma
evidência gráfica como temos agora”, explica Fisher. Na África de hoje,
elefantes jovens também são atacados por leões, o que proporciona um
meio de comparação com os ferimentos de Yuka.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/nature/
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