terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Presidente Obama fala sobre guerra em discurso de Nobel da Paz



EDITORIAL

Ao aceitar o Prêmio Nobel da Paz na quinta-feira, o presidente Barack Obama fez o discurso que precisava, mas suspeitamos que não fosse precisamente o que o comitê do Novel queria ouvir. 

Obama foi adequadamente humilde. Ele disse que “comparado a alguns gigantes da história que receberam este prêmio”, suas conquistas “são pequenas” e sugeriu que ele tinha sido escolhido não pelo que fez, mas pelo que esperam que ele faça.

Então, ele reconheceu que a maior parte do que ele chamava de “a controvérsia considerável” ao redor de sua premiação veio pelo fato de que ele é “o comandante-chefe do exército de uma nação que está no meio de duas guerras”. Ele não deu explicações por isso.

Em um discurso que foi tanto sombrio quanto crescente, ele falou e falou sobre o Afeganistão, argumentando que a guerra era moralmente justa e estrategicamente necessária para defender os EUA e outros dos ataques terroristas.

Em um momento de lembranças, ele invocou a memória de Mahatma Gandhi e do reverendo Dr. Martin Luther King Jr., dizendo que sem a visão, liderança e sacrifício, ele nunca estaria naquele palanque em Oslo.

Mas ele disse que não poderia ser guiado somente por seus exemplos: “não se enganem: o mal existe no mundo. Um grupo não-violento não poderia ter parado o exército de Hitler. As negociações não podem persuadir os líderes da Al-Qaeda a baixarem suas armas”.

Em sua introdução, o presidente do comitê do Nobel, Thorbjorn Jagland, fez apenas uma referência breve sobre o Afeganistão. Ele deixou claro que Obama foi escolhido por seu comprometimento, e ações anteriores, para desenrolar as piores políticas e abusos da presidência de George W. Bush.

Ele apontou para a abordagem “diplomática multilateral” de Obama, sua negociação com o Irã, sua decisão em proibir a tortura, seus esforços em reavivar as negociações sobre o controle de armas e participar da discussão sobre o aquecimento global. “O presidente Obama é um líder político que entende que mesmo os mais poderosos são vulneráveis quando estão sozinhos”, disse Jagland.

É um grande alívio ouvir um presidente americano descrever com tanta esperança e respeito. Em seu discurso, Obama lembrou seu comprometimento com essas políticas e princípios, advertindo que “nos perdemos quando nos comprometemos os ideais que lutamos para defender”.

O que mais surpreendeu foi que Obama, frequentemente, usava a guerra do Afeganistão para mostrar seus pontos. Ele disse que mesmo que os EUA confrontem “um adversário perverso que não obedece nenhuma regra”, esse país deve continuar sendo “um símbolo da conduta de uma guerra”.

Enquanto ele se reservava o direito de agir unilateramente em um mundo onde as ameaças são “mais difusas e missões mais complexas”, Obama disse que “os EUA sozinho não podem garantir a paz. Essa é a verdade no Afeganistão”. E ele desafiou diretamente a expansão da ambivalência e aversão à guerra nos EUA e na Europa. “A crença de que a paz é desejada raramente é o suficiente para consegui-la”, acrescentou.

Quando o presidente anunciou seu plano de mandar mais 30 mil tropas para o Afeganistão, na semana passada, o discurso de Obama foi bem argumentado, mas soava mais como um comunicado jurídico do que uma oratória presidencial exemplar. Naquele momento, ele saía de meses de complicados debates internos e sarcasmos dirigidos a ele devidos o ceticismo e a decepção de muitos integrantes de seu próprio partido.

Na quinta-feira em Oslo, Obama argumentou a questão de forma muito mais eloquente. Deixaremos para os filósofos debaterem o que é e o que não é uma guerra justa. Mas concordamos que essa guerra é bem complicada, porém necessária.

Nós também sabemos que não há chance de todos saírem vitoriosos, e a luta mais ampla contra o terrorismo, a menos que os EUA acabem com os padrões internacionais e sustente seus próprios ideais. Essa foi a promessa de Obama e seu desafio daqui para frente.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/new_york_times/

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