sexta-feira, 18 de junho de 2010

“Cala boca Galvão!” vira fenômeno da Internet

O novo universo virtual produz fenômenos globais de massa, instantâneos e inusitados.

Desde a semana passada, o mundo se pergunta: o que é “CALA BOCA GALVÃO”?

Alguns brasileiros gaiatos postaram no micro-blog Twitter o bordão dos campos de futebol conhecido de todos nós “Cala boca Galvão”, o qual, como todos sabem, exprime a impaciência de muitos torcedores com o estilo de narração do nosso mais famoso comentarista esportivo, Galvão Bueno. Dizem que isso começou porque o Galvão não gosta dos times do Sul, mas a verdade é que é um fenômeno nacional. E, por algum insondável motivo, muita gente agora acha que ele diz um monte de bobagens: “Cala boca Galvão”, efetivamente, remete-se ao bom e velho “Cala boca Magda”, do seriado cômico “Sai de Baixo”, que caiu no gosto do povo. O texto da Magda era realmente muito bom.

Mas aí a turma logo se identificou e retwittou freneticamente o “Cala boca Galvão”. A brincadeira começou a ficar interessante quando o tema figurou entre os mais twittados no mundo todo. De fato, não tem preço os gringos se perguntando: o que é “Cala boca Galvão”?

Nossos gaiatos, então, contaram aos gringos que se tratava de uma campanha para salvar um pássaro da extinção - o Galvao Bird - cujas penas seriam utilizadas indiscriminadamente nos desfiles de carnaval. Inventaram até um bispo que estaria à frente da campanha. E aplicaram que, a cada novo twitt, dez centavos de dólar iriam para uma suposta conta bancária, criada por uma fictícia ONG, para salvar os coitadinhos dos pássaros: Help us Save Galvao Bird, dizia até um videozinho postado no YouTube: Save Galvao Birds Campaign

Os gringos caíram! E o “Cala boca Galvão” foi retwittado aos milhares. Tornou-se o tema mais falado no Twitter, despertando interesse geral, feito noticiado até nos blogs do New York Times. Veja aí o link: Tweets of Fictional Galvão Birds Echo Online

Na twittosfera, conta-se que o responsável por revelar aos gringos o verdadeiro significado do “Cala boca Galvão” foi o Paulo Coelho. Não faltou quem começasse a twittar, então, “Cala boca Paulo Coelho”.

O fenômeno evoca algumas breves considerações.

Vejam, em primeiro lugar, como uma simples frasezinha pode ganhar o mundo em curto espaço de tempo! Evidencia-se o quanto a sociedade civil pode forjar notícias, o que antes parecia ser apanágio, sobretudo, da mídia estabelecida, de grandes corporações, pessoas notáveis ou de governos.

É claro, impressiona, também, que uma causa desimportante e piadista seja capaz de tamanha mobilização. Reflexos desses tempos pós-modernos, em que a idiotia foi entronizada: se o BBB é fenômeno de audiência, o “Cala boca Galvão” pode virar notícia internacional.

Nota-se, além disso, o quanto na Internet coexistem essas duas potências: o global instantaneizado e a localização do glamour. Sim, porque salvo algumas estrelas globais, o glamour popular é local. A Internet, é, assim, também fronteirizada. Percebamos o destaque que ganham, neste contexto, o Brasil, os brasileiros e a língua portuguesa.

Por outro lado, é impagável o registro a propósito da idiotia das pessoas quando se trata de alguma suposta causa em defesa do meio ambiente: qualquer patuscada passa batido, tamanha a credulidade da massa internáutica. Ingenuidade que passa também pela disposição em acreditar que um twitt pode ser convertido em dinheiro destinado a uma conta bancária! Muitos caíram feito patos na história e sequer se deram ao trabalho de verificar a sua veracidade, se existiam ou não os Galvao Birds, se a tal ONG era real ou não.

Sim, a sociedade civil tem uma poderosa arma de mobilização nas mãos, no mundo atual. Mas, como mostra o cômico da situação, essa é também uma arma perigosa, vez que as pessoas parecem dispostas a acreditar em qualquer besteira. O episódio é mel na sopa dos que sustentam não passar a tese do aquecimento global de uma conspiração de cientistas militantes que acreditam os meios justificarem os fins.

Finalmente, resta observar como a Rede Glóbulo, sempre tão rapidinha para levar às telas esses fenômenos jocosos da Internê, abordará o “Cala boca Galvão”. Pois, afinal, se trata de um golpe, maroto, é verdade, sobre as grandes redes de jornalismo e transmissão.

Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/

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