quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Neurologistas acidentalmente desconectam consciência de paciente

Um relatório muito interessante de um grupo de neurocirurgiões franceses lança luz sobre a base neural da consciência e dos sonhos. Guillaume Herbet e seus colegas descrevem o caso de um homem de 45 anos de idade no qual a estimulação elétrica de um ponto específico no cérebro “induziu uma alteração dramática da experiência consciente de uma maneira altamente reprodutível”.
O paciente tinha câncer no cérebro (um glioma difuso de baixo grau no hemisfério posterior esquerdo). Durante a cirurgia para remover o tumor, Herbet e sua equipe estimularam vários pontos de seu cérebro para mapear as áreas que eram funcionalmente mais importantes. Este é um procedimento padrão que permite que os cirurgiões saibam que pontos devem tentar deixar intactos.
A maioria dos estímulos não teve muitos efeitos, porém, em um ponto particular, na massa branca por baixo do córtex cingulado posterior (CCP) esquerdo, o pulso elétrico levou o paciente a parar de responder – a “se desligar”, essencialmente – por alguns segundos. As imagens abaixo ilustram este ponto, marcado como “S1” (a pequena mancha azul), e a parte que acabou sendo retirada na cirurgia, a zona vermelha do lado esquerdo.
Ao recuperar a consciência após a estimulação, o paciente relatou que tinha estado “em um sonho”. Três estímulos da mesma área produziram três devaneios, contam os pesquisadores. “Surpreendentemente, ele se descreveu retrospectivamente como em um sonho, fora da sala de cirurgia, e foi capaz de fugazmente relatar suas experiências subjetivas. Com a estimulação 1 ele disse: ‘Eu estava num sonho, havia um sol’; na estimulação 2: ‘Eu estava sonhando, estava na praia’, e na estimulação 3: ‘Eu estava em um sonho, cercado por uma paisagem branca'”, listam. “Nenhum lugar no espaço anatômico circundante provoca esta manifestação”.
Ainda que a visão de sóis e praias não pareça constituir o pesadelo de muita gente, o paciente disse que estes sonhos eram, na verdade, absurdamente horríveis. Segundo o relato, apenas a menção de tais eventos já era associada a uma descarga emocional muito forte, incluindo choro e tremores. “Eu não me lembro, eu não quero lembrar”, dizia o homem.
Para os estudiosos, isto significa que “perturbar a conectividade subcortical do córtex cingulado posterior esquerdo induziu de forma confiável um colapso na experiência consciente”. Isto se encaixa perfeitamente com a teoria de que o CCP – um “líder” da rede neural – é fundamental para despertar a consciência. Contudo, o estranho é que uma grande parte dele não foi apenas interrompida, mas permanentemente cortada, e isto não destruiu a consciência do paciente.
Apesar disso, o homem relatou não ter experimentado nenhum pensamento negativo por quase um mês após a cirurgia. “Ele descreveu a si mesmo em uma espécie de estado contemplativo, com uma sensação subjetiva de felicidade absoluta e de atemporalidade”, conta o estudo.
Tal situação soa quase como uma iluminação espiritual, mas só durou um mês. Depois deste período, aparentemente ele teria voltado mais ou menos à consciência normal – ainda que o pedaço do CCP não tenha voltado a fazer parte de seu cérebro.
É… O curioso relato parece levantar mais perguntas do que respostas.
Fonte: http://blogs.discovermagazine.com/neuroskeptic/

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