sábado, 29 de maio de 2010

Oceano vale mais do que petróleo

Mais quantas catástrofes ecológicas serão ainda necessárias para concluir que a exploração marítima de petróleo deve ser abandonada enquanto todas as condições de segurança não forem garantidas? Embora atrasadíssima, a decisão tomada anteontem pelo presidente Barack Obama de suspender novas prospecções de petróleo no Golfo do México, além de moratória de mais seis meses na costa atlântica, comprova que seu governo reconhece sérias falhas no processo de fiscalização, citando, inclusive, indícios de corrupção nas relações entre agências regulatórias e indústria do petróleo.

O alerta serve também para o Brasil.
Vinte de abril de 2010 entrou lamentavelmente para a História como o dia do mais grave vazamento de óleo dos Estados Unidos. Após 37 dias, ainda não se conseguiu estancar o derramamento em Deepwater Horizon, área onde se localiza a plataforma da British Petroleum (BP), no Golfo do México, no litoral dos estados de Louisiana, Mississippi e Alabama, que vinham duramente se recompondo dos enormes estragos causados pelo furacão Katrina, em 2005.
Os números são impressionantes: já são 85 milhões de litros de óleo despejados (podendo chegar a 340 milhões), comparados aos 40 milhões vazados do petroleiro “Exxon Valdez”, na região do Alasca, em 1989.

Pesquisas feitas pelo “New York Times” demonstram que o pior vazamento de óleo de todos os tempos ocorreu, em 1991, quando as forças militares iraquianas se retiraram do Kuwait e abriram os reservatórios, largando 2 bilhões de litros de óleo no Golfo Pérsico.

Que me desculpem os defensores da indústria petrolífera e da exploração do pré-sal, mas não podemos continuar destruindo nossos ecossistemas, fontes de riqueza e sobrevivência de futuras gerações, sem criar clara consciência ecológica e universal dos altos riscos envolvidos.

Esta visão imediatista das indústrias que requisitam cada vez mais matérias-primas, como o petróleo, para fabricar seus produtos deve ser reformulada gradualmente em busca de fontes de energia renováveis, que não causem danos graves à natureza ou à saúde. O fortíssimo lobby industrial acaba provocando o nocivo ciclo do lucro a qualquer custo sem que se invista previamente em estudos científicos e tecnológicos cada vez mais precisos para calcular os custos colaterais destas atividades petrolíferas, antes de serem autorizadas com rigoroso monitoramento.

O episódio do Golfo do México serve de advertência aos governos e candidatos à Presidência ansiosos em dividir o bolo das receitas antes mesmo de se deterem detalhadamente nas minúcias deste processo de exploração nas profundezas do nosso oceano.

Por um lado, as águas do Golfo do México são consideradas “máquina” de produção de alimentos altamente nutritivos. “Em 2008, as pescas comerciais de cinco estados americanos desta região produziram 590 mil toneladas de peixes e crustáceos avaliadas em US$ 661 milhões” (o equivalente a R$ 1,3 bilhão), informou a Agência de Proteção do Meio Ambiente dos EUA ao site americano Grist. Portanto, as perdas econômicas e sociais são incalculáveis a médio e longo prazos.

Por outro lado, as empresas petrolíferas sabem bem que as novas descobertas no fundo do mar representam o seu futuro. O Golfo do México produz um terço da produção dos EUA, o equivalente a 1,7 milhão de barris por dia, procedentes de mais de 3 mil metros no fundo do mar. Ao lado do Brasil e da costa ocidental da África, o Golfo é visto como promissora fonte de petróleo.

Seria uma ilusão acreditar que da noite para o dia poderíamos dispensar o combustível dos carros e renunciar ao petróleo como fonte principal de energia. Mas se as explorações não forem suspensas para análises e severas fiscalizações, como agiram os EUA, podemos chorar por novas catástrofes. E de nada adiantará multar as companhias por seus erros para tentar diminuir a responsabilidade porque os danos são, obviamente, impagáveis.

É bom lembrar que a avaliação dos dispositivos de segurança das nossas plataformas é feita exclusivamente pelas empresas petrolíferas (resolução 43/07 da Agência Nacional do Petróleo), fato extremamente preocupante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário